Usuários de Smart Speakers, como Alexa ou Google Nest, podem ter nas mãos uma série de funcionalidades: ouvir músicas ou notícias, ligar para amigos e familiares, controlar aparelhos domésticos e até mesmo desvendar crimes. Pelo menos é uma prática que vem ganhando recorrência entre departamentos policiais dos Estados Unidos.
O primeiro caso relacionado a uma solicitação policial de dados privados de dispositivos inteligentes foi registrado pela Amazon em 2016. No estado do Arkansas, a polícia de Bentonville pediu ajuda à companhia de Jeff Bezos para obter mais informações sobre um caso de homicídio. Inicialmente, a Amazon bloqueou a solicitação, mas acabou cedendo as gravações.
Desde então, dados obtidos em gadgets de terceiros têm crescido e unidades de polícia — ou advogados de defesas — passaram a utilizar os apetrechos como peças fundamentais em uma investigação.
Em entrevista à revista Wired, o analista forense Lee Whitfield explicou como as forças policiais vêm utilizando informações nos registros de atividades dos alto-falantes e outros aparelhos similares. “A polícia já atuou em uma apreensão de drogas em uma residência utilizando apenas dados de um alto-falante inteligente. Na ocasião, eles conseguiram identificar e prender o traficante em questão somente consultando o seu histórico recente no aparelho”, ele conta.
Nos Estados Unidos, uma instrutora forense conseguiu provas de um homicídio graças a queda frequente dos batimentos cardíacos registrados no Apple Watch da vítima. Créditos: Cesar Schaeffer
Geralmente, o Google e a Amazon notificam os seus usuários quando há uma solicitação de dados. Qualquer entidade pode acessá-los, mas, existe uma linha de prioridades para a solicitação dessas informações, segundo informou Whitfield. “Casos envolvendo Segurança Interna, por exemplo, terão alta prioridade. Já questões envolvendo divórcios ou processos civis, acabam recebendo uma classificação mais baixa na lista”, ressalta.
Mesmo com certas limitações em prática, a Amazon divulgou que recebeu mais de 3000 solicitações de dados de seus dispositivos inteligentes por policiais no primeiro semestre de 2020. Ao todo, quase 2000 solicitações foram atendidas. Comparando com 2016, quando a Amazon divulgou esses dados pela primeira vez, os números de 2020 representam um aumento de 72% da demanda.
Operação: Perícia Digital
Já a instrutora forense Heather Mahalik relembra um curioso caso acontecido no estado da Flórida, em que um homem matou sua esposa e, em seguida, tentou se passar por ela. “Ele [o marido] enviou várias mensagens no Facebook do telefone de sua esposa para tentar confundir a linha do tempo do seu desaparecimento. No entanto, o Apple Watch da vítima mostrava uma queda repentina na sua frequência cardíaca”.
Segundo o que ela contou, a atividade no telefone do homem acabou sincronizando perfeitamente com a hora em que ele usou o telefone da esposa para fazer publicações no Facebook. Já o telefone dela não mostrou nenhuma atividade, exceto quando o seu marido fez o seu uso para interagir na rede, com notificações de hora e data combinando exatamente com a atividade suspeita.
“A partir do seu celular, conseguimos identificar que ele pegou o telefone da esposa e realizou uma postagem no Facebook”, diz Mahalik.
Essa é apenas uma das práticas que se tornou comum entre os analistas: a perícia digital, ação na qual as informações de um dispositivo podem sugerir evidências em outro. Em cima das evidências apuradas, especialistas chegam a uma pista ou a resolução total de um crime.
O chefe do departamento de justiça criminal da Universidade do Norte da Geórgia, Douglas Orr, conta que as unidades policiais procuram por essas evidências digitais na medida em que seguem a investigação paralelamente por outras vias. “Agora estão sendo criados também modelos que simplificam a solicitação de dados que, muitas vezes, acabam sendo compartilhados por outros departamentos”, finaliza.
Via: Wired