Como as redes sociais atuaram para limitar desinformação nas eleições dos EUA

Publicações de Donald Trump e posts que celebravam uma vitória antecipada do candidato democrata Joe Biden tiveram o alcance limitado
Renato Santino04/11/2020 21h09

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A eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016 trouxe ao vocabulário político global uma nova expressão: “fake news“. Foi o primeiro processo eleitoral que utilizou como munição os algoritmos das redes sociais para propagação de desinformação em grande escala em prol de uma campanha eleitoral.

As redes sociais foram pegas de surpresa com a estratégia há quatro anos, mas parecem que, agora, decidiram agir de forma até agressiva contra o que consideram desinformação nas eleições americanas e dão um sinal de como atuarão em outros processos eleitorais relevantes, como o do Brasil em 2022. Basta olhar o que aconteceu com a timeline de Donald Trump no Twitter. Em menos de um dia, quatro posts foram ocultados da plataforma com alegação de que as informações são contestáveis ou inverídicas.

A rede social adotou uma política ativa de moderação. Quando se trata de figuras públicas de alta relevância, como políticos em campanha eleitoral, o Twitter mantém a posição de não deletar os posts, mas apenas os coloca atrás de um aviso de que as informações podem não ser confiáveis. No caso de Trump, as publicações “censuradas” relatam todas suas suspeitas de fraude na apuração.

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E se engana quem acha que essa postura é direcionada apenas ao lado de Trump na disputa. A rede social fez questão de ocultar um post de Neera Tanden, apoiadora do partido democrata que participou em campanhas eleitorais de Obama e Hillary Clinton. Sua publicação foi ocultada apenas por dizer que Joe Biden liderava a apuração nos estados de Arizona, Winsconsin, Nevada e Michigan, que, somados, dariam ao candidato democrata os 270 votos do colégio eleitoral de que ele precisa para vencer. A publicação foi colocada atrás de um aviso, com um alerta de que os votos ainda estavam sendo contados.

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Ambas as ações são parte de uma iniciativa da rede social em restringir declarações antecipadas de vitória. Essas etiquetas de informação potencialmente enganosa serão aplicadas a mais contas não necessariamente ligadas a políticos, mas a qualquer perfil de grande alcance, com mais de 100 mil seguidores. Publicações que viralizarem, mesmo que não pertençam a um usuário de grande relevância, também podem ser ocultadas.

As ações do Twitter também visam suprimir mensagens que convoquem ações violentas.

No Facebook também

A rede de Zuckerberg não ficou para trás nas ações contra publicações que considera desinformativas. A empresa também tem as mesmas políticas de cortar publicações que declarem vitória antes da hora.

Para definir o que é “antes da hora”, o Facebook se baseia no consenso de seis veículos de imprensa de diferentes alinhamentos políticos nos Estados Unidos. Se alguém tenta declarar-se vitorioso sem a conclusão das apurações, a empresa, assim como o Twitter, não omite a publicação, mas inclui um aviso de que os votos ainda estão sendo contados.

A regra também afetou Trump na plataforma. Assim como no Twitter, o presidente americano também chegou a declarar vitória antes da hora, fazendo com que o Facebook decidisse por incluir um aviso em sua publicação de que a apuração não estava concluída e de que o resultado definitivo pode ser diferente das parciais iniciais.

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YouTube não fica de fora

O YouTube não é uma plataforma de comunicação em tempo real entre políticos e seus eleitores como Facebook e Twitter, mas isso não significa que a plataforma não precisa lidar com desinformação.

A rede social preparou um esquema com um aviso para vídeos que declarassem vencedores prematuramente e um link para a página de buscas do Google, que tem um mecanismo de acompanhamento da apuração em tempo real.

No entanto, a plataforma viu uma série de transmissões ao vivo de canais grandes fazerem justamente isso: declarar vitória antes da hora. Pelo menos quatro vídeos foram detectados, e um dos canais chama Wicked Sounds, com mais de 1,48 milhão de inscritos, com mais de 20 mil espectadores em determinado momento, com direito a monetização com o sistema de anúncios do YouTube. Ele declarava que Biden já tinha conquistado os 270 delegados necessários para vencer a eleição. O YouTube removeu as transmissões sob alegação de que elas feriam as diretrizes da comunidade.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital