Consertar um iPhone é uma coisa que fica cada vez mais difícil a cada geração do aparelho. No iPhone XR, XS e XS Max a empresa implementou uma verificação nas baterias. A não ser que uma troca de bateria seja feita pela Apple, o item Health (Saúde) na seção de Bateria do app de Configurações irá sempre mostrar a mensagem ‘Service’, após a troca. Além disso, informações como a capacidade máxima e “capacidade de pico” da bateria não serão mais mostradas.

A mensagem normalmente aparece quando a bateria tem um problema e precisa de reparos. Mas na prática ela aparece mesmo que a bateria instalada seja uma peça original da Apple e novinha em folha, retirada de outro iPhone. Ou seja, ela serve mais como um aviso de que o reparo não foi feito pela Apple do que de um problema real na bateria.

No iPhone 11, 11 Pro e 11 Pro Max, foi a vez das telas: o TrueTone, recurso que ajusta as cores da imagem na tela de acordo com a iluminação ambiente, para de funcionar caso uma troca de tela seja feita por qualquer um que não a Apple. Novamente, isso ocorre mesmo que a nova tela seja uma peça original.

Alerta após uma troca de tela “não autorizada”. Foto: Reprodução

Em ambos os casos, a Apple tenta justificar as checagens como uma “garantia” para o consumidor: “As substituições não executadas pela Apple, por serviços autorizados ou técnicos certificados podem não seguir os procedimentos adequados e podem resultar em problemas com a qualidade e a segurança”.

Mas no iPhone 12, ela foi um passo além. O mais novo componente “não reparável” é o módulo com as câmeras. O primeiro a relatar o problema foi o youtuber australiano Hugh Jeffreys, que faz vários vídeos com reparos de aparelhos da Apple. Ele comprou dois iPhones 12 idênticos e colocou a câmera de um no outro. Não há motivo nenhum para que isso cause problemas, mas não foi o que aconteceu:

Após a troca, as câmeras dos aparelhos começaram a se comportar da pior forma possível, travando na troca de modos, se recusando a alternar entre lentes ou simplesmente congelando totalmente. O problema foi confirmado pelo iFixit, conhecido pelo desmonte e análise detalhada de produtos eletrônicos, entre eles iPhones.

O relatório do iFixit menciona que “propositalmente, por negligência ou ambos, a Apple está tornando extremamente difícil consertar um iPhone sem sua benção”. Infelizmente, é difícil para a Apple alegar que tudo não passa de um “bug”: documentação interna obtida pelo iFixit menciona que ao realizar uma troca de câmera, assim como no caso de telas e baterias, é necessário o uso de uma ferramenta chamada “System Configurator Tool”, à qual apenas os técnicos da Apple têm acesso, para “abençoar” os componentes e restaurar o funcionamento correto do aparelho.

Ações como esta da Apple são combustível para o movimento de “direito ao reparo”, que defende que os consumidores têm o direito de reparar um produto que adquiriram, seja um iPhone, uma cafeteira ou um carro, e que as empresas não podem usar artimanhas como procedimentos e ferramentas secretas e sistemas de autenticação para dificultar o trabalho.

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iPhone 12 vem em uma caixa menor, sem o carregador. Segundo a Apple, para ajudar a preservar o meio-ambiente. Foto: Reprodução

Um consumidor nos EUA tem acesso fácil a um centro de reparos da Apple, seja em uma Apple Store próxima ou enviando o produto pelo correio. Um consumidor no Brasil pode não ter o mesmo privilégio.

Impedir que um técnico local realize um reparo, além de aumentar o custo de propriedade do aparelho, contribui para produção de lixo eletrônico: um aparelho que poderia ser reparado e continuar em uso por mais um ou dois anos pode acabar sendo descartado. Um pecado mortal para uma empresa que removeu os carregadores da embalagem de seus smartphones, alegando preocupação com o meio-ambiente.

Fonte: iFixit / Hugh Jeffreys