O aquecimento global é uma realidade, suportada por inúmeras observações diretas e estudos científicos ao longo dos anos. 2016 foi o ano mais quente já registrado, com um aumento de 1,25 ºC na temperatura média global, e 2019 chegou bem perto disso.

Isso não quer dizer que todo o planeta está se aquecendo no mesmo ritmo. Quando falamos em aquecimento global estamos falando da temperatura média de todo o planeta. O clima é um sistema complexo, e as mesmas mudanças que podem causar nevascas monstruosas na América do Norte podem causar secas recordes e incêndios na Austrália.

Ainda assim, um ponto no Atlântico Norte intriga os cientistas. Conhecido como “buraco no aquecimento” ou “a bolha”, ele desafia tendências. Enquanto a temperatura média dos oceanos subiu 2 ºC desde 1900, a deste ponto ao sul da Groenlândia caiu 0,9 ºC.

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Lista dos 10 anos mais quentes já registrados, considerando média global de temperatura. Imagem: Climate Central

Um novo estudo realizado por pesquisadores do Instituto Max Planck de Meteorologia, na Alemanha, tenta descobrir as causas deste fenômeno. E aponta mudanças em correntes marítimas e na cobertura de nuvens na região como os principais culpados.

Pisando no freio

Os pesquisadores apontam indícios de que a corrente conhecida como Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), que age como uma “esteira rolante” transportando águas de regiões mais quentes para o Atlântico Norte, está se movendo mais lentamente. A causa seria a grande quantidade de água doce sendo levada até o oceano pelo derretimento das geleiras na Groenlândia.

Segundo Paul Keil, autor principal do estudo, isto reduz a salinidade do oceano, o que torna a água menos densa. Com isso a água fria da região não afunda: em vez disso ela fica próxima à superfície, atrapalhando o movimento da água quente trazida pela AMOC.

Além disso, Keil e sua equipe descobriram que o “giro subpolar”, um “loop” de água que circula no Atlântico Norte, está retirando calor da região. Normalmente ele transporta águas mais quentes rumo ao norte, até o Oceano Ártico.

Situação nebulosa

As águas mais frias causam o segundo fator que leva à queda nas temperaturas na “bolha”: um aumento na quantidade de nuvens de baixa altitude, que “refletem mais luz do sol e, portanto, resfriam mais ainda a superfície”.

Isso gera um círculo vicioso. O enfraquecimento da AMOC serve de “gatilho” para o resfriamento da região, gerando nuvens que ajudam a sustentá-lo. O papel das nuvens, entretanto, é uma descoberta recente, que merece mais estudos.

“A mudança climática antropogênica altera o circuito do sistema climático”, diz Kristopher Karnauskas, oceanógrafo da Universidade do Colorado em Boulder, nos EUA, que não participou da pesquisa de Keil. “A bolha é uma manifestação interessante dos perigos que estamos atraindo”.

Fonte: Mashable