Para muitas pessoas, o uso de inteligência artificial ainda é cercado de mistérios. O uso de dados para produzir soluções para um determinado problema parece não ser devidamente compreendido pela maioria. Afinal, como saber se a máquina julgou corretamente os fatores de riscos? Como saber se o algoritmo não refletiu nenhum tipo de preconceito? Quando essas decisões impactam no limite de crédito, os questionamentos são ainda maiores.
Essas questões são alguns desafios com os quais o indiano Krishna Venkatraman precisa lidar diariamente. No começo do ano, ele trocou a vice-presidência da IBM, em Nova York, para dirigir a área de ciência de dados do Nubank, a fintech que mais emite cartões de crédito no Brasil.
Identificação de bons e maus pagadores
Em entrevista ao Estadão, Venkatraman, que é pós-doutor em Engenharia Industrial pela Universidade de Stanford, explicou como o Nubank utiliza a inteligência artificial. Ele esclareceu que, para identificar bons e maus pagadores, a tecnologia usa os relatórios de birôs de crédito, comportamento de compras e até recomendações de usuários que também já são clientes.
Ele explica que a aprovação de crédito é um processo caro, o que pode excluir muita gente, sobrando apenas os consumidores que “valem a pena”. Com a inteligência artificial, é possível analisar os créditos em segundos, e não em uma semana. “Se um usuário tem alto risco em certo limite, concedemos a ele limite mais baixo. Assim, a pessoa pode usar nosso produto e, com mais informações, podemos até aumentar o limite”.
Krishna Venkatraman – Foto: SiliconAngle
Análise isenta de preconceitos
Venkatraman garante que os fatores que afetam o crédito sempre serão os utilizados pela tecnologia, como renda e ficha criminal. “São coisas razoáveis de se supor e não são segregatórias”, afirmou. “Sociedades podem ter diferentes proporções de pessoas com certas características, mas não se deve condicionar uma decisão sobre isso”, completou o executivo indiano.
Uso de dados respeitando a privacidade
O executivo do Nubank explica que não há razão para um cientista de dados saber precisamente quem é determinado cliente, porque ele pode analisar pelo contexto. “Nos próximos 10 anos, os clientes tomarão as rédeas sobre os direitos de seus dados. É perfeitamente possível anonimizar dados sensíveis ou remover informações pessoais, a menos que eles sejam extremamente necessários, como em casos de fraude”.
Fintechs tomando o lugar de bancos tradicionais
Com o surgimento de fintechs como o Nubank, muitos preferiram abandonar os bancos tradicionais. Sobre isso, Venkatraman afirma que “inteligência artificial e dados são ferramentas para fins específicos”.
“Podemos ter vantagem agora, mas todos os grandes bancos estão olhando para isso. A real vantagem que temos é na centralidade do usuário. Não é uma resposta tecnológica, e nunca é. A resposta é como fazer a tecnologia trabalhar em direção ao usuário” disse Venkatraman.
Uso da tecnologia no Brasil
Venkatraman afirma que o Brasil ainda não está no mesmo nível de países como os Estados Unidos, quando se trata do uso da inteligência artificial por insitituições financeiras. “A riqueza e diversidade de dados dos EUA é maior. O Brasil tem alguns “buracos” que precisamos cobrir. Informações de bom pagamento, como cadastro positivo, ainda não são amplamente adotados por aqui”, explica o indiano.
Ao mesmo tempo, ele garante que esses “buracos” deixarão de existir em pouco tempo: “Saber quem pagou uma conta no tempo correto é valioso. Mas isso vai mudar em breve, não vai demorar 50 anos, como aconteceu lá. O ritmo da tecnologia é rápido o sufuciente para que isso não aconteça”.
Via: Estadão