A pandemia da Covid-19 tem forçado o desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma série de tecnologias. Uma delas é o reconhecimento facial com o uso de máscaras, ou ainda o simples reconhecimento da obediência à obrigatoriedade do uso de máscara. É nesta última que investiram as empresas como a LeewayHertz, com sede em San Francisco, e a Tryolabs, de Montevidéu.
Os softwares desenvolvidos por ambas se destinam ao uso em ambientes privados e públicos e, segundo seus criadores, não teriam o potencial de infringir o direito à privacidade do cidadão. Cumpririam apenas a função de observar a adesão ao uso de máscara em nome do bem público e do interesse coletivo.
O software da Tryolabs está preparado para apontar se o rosto humano está com ou sem máscara, no entanto, sem revelar a identidade da pessoa. Crédito: Tryolabs/Divulgação
Detecção da máscara, não da identidade
Em tese, a questão da privacidade estaria superada, uma vez que os programas realmente não identificam as pessoas. O algoritmo é treinado para cumprir duas funções: reconhecer um rosto humano (detecção facial sem vincular a uma pessoa específica), e identificar uma máscara neste rosto (reconhecimento de máscara).
“Se pudermos calcular o número [de pessoas que estão respeitando a obrigatoriedade de uso da máscara], pode-se fazer políticas e monitorar se é preciso ou não fazer outra campanha para forçar o uso da máscara”, diz Alan Descoins, diretor de Tecnologia da Tryolabs. Outra situação, segundo ele, será quando houver por parte da população um certo cansaço com a pandemia e se começar a abrir mão do acessório. Quando isso acontecer, destaca, “talvez seja necessário haver mais publicidade para alertar as pessoas.”
Os novos softwares podem ser usados em tempo real e integrados às câmeras de circuito fechado TV. Também seriam mais assertivos na sua finalidade de identificação de uso, já que as máscaras têm confundido os softwares tradicionais de reconhecimento facial. E este é um desafio do presente. No Brasil, por exemplo, em todas as Unidades da Federação o uso do acessório é obrigatório ou recomendado.
Imagens de circuito fechado de TV com o emprego dos novos algoritmos ajudariam a policiar as pessoas no cumprindo das recomendações de uso da máscara. Crédito: Tryolabs/Divulgação
E como fica a privacidade?
Hector Dominguez, coordenador de Dados Abertos da Cidade Inteligente de Portland, vê o reconhecimento de máscara como diferente do reconhecimento facial no que diz respeito aos riscos à privacidade. Mas não deixa de advertir sobre perigos desta vir a ser violada também pelo novo sistema. “Estamos no meio de uma crise. Precisamos começar a criar mais consciência sobre a privacidade”, diz.
No fundo, ele teme que os novos sistemas de reconhecimento de máscara capturem mais do que se propõem. “As máscaras não vão impedir o reconhecimento facial”, observa. Já James Lewis, diretor do Programa de Política de Tecnologia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, é mais enfático: “Há uma vontade de relaxar as regras quando se trata de qualquer coisa relacionada à Covid”. O problema é que uma vez relaxado, dificilmente se volta ao estado anterior.
Fonte: National Geographic