Sobe e desce: como a Covid-19 derrubou e levantou empresas de tecnologia

O coronavírus é um desastre para a economia global, mas alguns aplicativos e serviços têm vivido um momento de crescimento
Renato Santino12/05/2020 00h14, atualizada em 12/05/2020 09h00

20200130060515-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O mundo inteiro está diferente neste momento por conta do coronavírus. Vários setores econômicos estão se reorganizando para atender a novas demandas, e o setor tecnológico está . Como resultado, várias empresas gigantes estão vendo mudanças em seus negócios, tanto para cima quanto para baixo.

Veja como a Covid-19 está afetando os negócios das companhias de tecnologia neste momento, com base nos anúncios de resultados referentes ao primeiro trimestre de 2020. Vale notar que, como a pandemia é dinâmica, a situação das companhias pode mudar consideravelmente pelo restante do ano.

Para cima

  • Videoconferência

Quando foi a primeira vez que você se reuniu em uma conversa de vídeo com mais de uma pessoa? Para muitos, isso aconteceu só depois de a pandemia começar a forçar o fechamento de escritórios e escolas, forçando a recriação desse ambiente coletivo digital na forma de videochamadas coletivas.

Nesse sentido, não há ninguém que tenha tido tanto sucesso quanto o Zoom, aplicativo que era completamente desconhecido no início do ano, mas cresceu de forma aceleradíssima de lá para cá. A empresa viu o número de participantes diários em conferências de 10 milhões para 300 milhões desde o início do ano. Esse número pode contar a mesma pessoa mais de uma vez (se alguém participa de cinco conferências em um dia, ela é contada cinco vezes), mas ainda mostra, no mínimo, um aumento massivo no número de videoconferências realizadas diariamente.

Vendo esse crescimento, outras empresas começaram a se movimentar, como a Microsoft com o Teams e o Google com o Meet. Resta saber se algum deles será capaz de ameaçar o sucesso do Zoom.

  • Streaming

No primeiro trimestre de 2020, a Netflix teve um crescimento em sua base de assinantes duas vezes maior do que havia projetado em janeiro, antes da extensão do problema ser compreendida no Ocidente. Não é muito difícil entender o que aconteceu: mais pessoas presas em casa precisando de entretenimento para enfrentar o isolamento resultam em mais pessoas recorrendo às plataformas de streaming.

A empresa havia previsto um crescimento de 7 milhões de assinantes no mundo, mas viu quase 16 milhões de assinantes chegarem nos primeiros três meses de 2020.

A situação acaba se estendendo para outras empresas. O Prime Video, da Amazon, também passou por crescimento, e a divisão de serviços da Apple, onde se enquadram serviços como o Apple TV+, ajudou abater a redução nas vendas de celulares.

  • Nuvem

Com mais empresas recorrendo ao home-office para manter suas atividades, a infraestrutura necessária para manter as comunicações em ordem está se transformando. Em vez de servidores locais, mais companhias acabam recorrendo às opções na nuvem e, o que já era uma tendência antes, foi reforçado com a pandemia.

Para completar, as novas dinâmicas de consumo de internet, com a entrada das videoconferências entre as ferramentas que passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas pelo mundo, mais pessoas consumindo vídeos por streaming em horários alternativos, plataformas de computação em nuvem precisam trabalhar mais, e, consequentemente, recebem mais por isso.

Microsoft e Amazon estão entre as empresas que anunciaram grandes crescimentos em suas plataformas de nuvem. A primeira viu a divisão crescer em 27% em comparação com 2019, enquanto a outra viu a área crescer 33% de um ano para o outro.

  • E-commerce

Aqui não há muito o que explicar. As pessoas não podem sair de casa, e estão precisando comprar suas coisas pela internet, especialmente com comércios proibidos de atender o público presencialmente em muitas partes do mundo.

Novamente, a Amazon, como maior exponente global do comércio eletrônico, viu um salto gigantesco no faturamento com o e-commerce. A empresa viu o maior crescimento da divisão em três anos, aumentando 25% na comparação com o período de 2019, em parte causada pela migração dos hábitos de consumo para a internet.

  • Delivery

Da mesma forma que o e-commerce cresceu, aumentou a demanda de comida por delivery, com muitas pessoas confinadas e indispostas a cozinhar. Aplicativos que proporcionam essa funcionalidade viram um crescimento forte.

O Uber Eats, que tem atuação global, viu um salto de 56% no seu faturamento na comparação com o mesmo período de 2019, o que mostra a força deste mercado no momento. Aplicativos também estão aproveitando o momento para expandir suas atividades, com Uber e iFood incluindo mercados entre os estabelecimentos atendidos no Brasil.

  • PCs

Por muitos anos, o PC se viu ameaçado. Com smartphones cada vez mais presente nas vidas das pessoas, muitos deixaram de enxergar necessidade de atualizar seus computadores domésticos ou deixaram de utilizá-los regularmente.

A pandemia criou um ressurgimento do PC. Com pessoas impossibilitadas de se dirigirem aos seus escritórios e suas escolas e faculdades, não foi difícil perceber o quão difícil é ser produtivo em um smartphone, sem um teclado, mouse e um sistema operacional pensado para essa finalidade.

O resultado pode ser visto entre as empresas que produzem computadores ou apoiam o mercado com o fornecimento de software ou componentes. A Microsoft reportou um crescimento de 5% no faturamento com Windows Pro OEM, que já vem pré-instalado em PCs prontos, assim como a Intel viu um salto de 14% nas receitas ligadas ao mercado de computadores pessoais.

Para baixo

  • Celulares e muitos outros eletrônicos

A pandemia mexeu com hábitos de consumo tecnológico. Se as pessoas perceberam que precisam de um PC para tarefas que demandam mais cuidado e atenção, do outro lado, talvez tenham percebido que a troca frequente de smartphones não é tão necessária assim.

O resultado foi sentido pela Apple e pela Samsung, as duas empresas mais importantes do mercado de celulares. A Apple anunciou seus resultados do trimestre com uma queda de 7% nas receitas vindas do iPhone na comparação com 2019, revertendo uma tendência de anos de alta nas vendas do aparelho.

Igualmente, a Samsung já alertou investidores de que anunciará queda nas vendas de smartphones e televisores no período referente ao início do ano, como resultado da mudança no perfil de consumo causada pelo coronavírus.

  • Transporte

Essa também não é difícil de entender. Com mais pessoas presas em casa, sem se deslocar ao trabalho e sem opções de lazer, a necessidade de usar aplicativos de transporte para se deslocar despenca.

A Uber, que viu um crescimento forte com o Eats, sentiu esse impacto da redução de mobilidade rapidamente. A empresa viu reverter sua tendência de anos de crescimento sustentada há anos para registrar uma queda de 3% no faturamento com transporte de passageiros

  • Viagens

Também não é muito difícil de entender. Não há demanda por viagens neste momento, e as empresas que apostaram neste setor, com comparação de preço e reservas de voos e hotéis, por exemplo, estão sofrendo.

O Airbnb talvez seja o maior exemplo de empresa do setor que está sofrendo para se reinventar neste momento. A companhia, que viveu anos de expansão intensa, que chegou a ameaçar o setor hoteleiro e forçar regulamentações no mundo inteiro, anunciou demissão de 25% de sua força de trabalho.

  • Publicidade

O Facebook viu crescer consideravelmente o número de pessoas que utilizam seus serviços diariamente, com mais pessoas presas em casa. No entanto, isso não deve se refletir positivamente nos negócios da empresa.

A empresa anunciou aos investidores que viu seu faturamento crescer 17% no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o período de 2019. No entanto, esse período compreende apenas o início do pânico no Ocidente e das medidas de contenção adotadas pelo mundo, e o crescimento não deve se sustentar durante este trimestre que está em andamento.

A empresa disse que, durante as três semanas finais de março, “percebeu uma redução significante na demanda por publicidade e uma queda de preço dos anúncios da plataforma”. Também não é difícil entender: muitos negócios estão impossibilitados de operar normalmente pelo mundo ou simplesmente fecharam, então são anunciantes em potencial que deixaram de anunciar. Para o segundo trimestre de 2020, o Facebook está vendo uma queda em comparação ao primeiro deste ano e estabilidade na comparação com o período de 2019.

Foi o mesmo que a Alphabet, conglomerado que controla o Google, percebeu. Durante os dois primeiros meses de 2020, os negócios estavam fortes, mas durante março houve uma queda no faturamento com publicidade, que deve se manter pelo segundo trimestre.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital