Você pode não se dar conta, mas o consumo de plástico no dia a dia é colossal. Pense num macarrão à bolonhesa. A massa que chega à cozinha vem embalada em plástico. A carne, também, assim como os temperos e o azeite. As embalagens, que já são de plástico, saem do supermercado em sacolas feitas do mesmo material. Tudo isso é descartado em menos de cinco segundos, mas ir para o lixo não significa desaparecer do planeta. Agora, imagine que isso é feito várias vezes todos os dias, por bilhões de pessoas ao redor do mundo.
As práticas modernas de consumo têm o potencial de produzir, até 2040, resíduos plásticos em quantidade suficiente para cobrir toda a extensão do planeta. É o que alerta o pesquisador Richard Bailey, que estuda sistemas ambientais na Universidade de Oxford. Segundo ele, até lá serão despejados impressionantes 29 milhões de toneladas de garrafas, sacolas e microplásticos nos oceanos anualmente (mais que o dobro dos 11 milhões atuais). A nível de comparação, é como se o mar recebesse 50 kg de plástico a cada metro de litoral.
Em artigo publicado na revista Science, Bailey e seus colegas afirmam que, se não forem tomadas medidas drásticas, 1,3 bilhão de toneladas de plástico serão desperdiçadas nas próximas duas décadas. Até mesmo se adotássemos, coletivamente, ações extremas para frear o consumo, esse número ainda seria enorme, por volta de 710 milhões de toneladas.
Atualmente, cerca de 11 milhões de toneladas de plástico são despejadas no mar a cada ano. Imagem: Pixabay
A previsão foi feita por meio de um modelo matemático baseado em “arquétipos geográficos”. Em vez de medir o consumo de plástico por país, os pesquisadores dividiram os diferentes níveis de descarte em categorias de renda e localização. Eles concluíram que, de forma geral, populações mais pobres e rurais costumam sofrer com a falta de sistemas de gerenciamento de resíduos.
Não tendo onde descartar o plástico, muita gente acaba optando por queimá-lo. Nesses casos, o problema é ainda maior, uma vez que a combustão do material libera grande quantidade de CO2, gás responsável pelo aquecimento do planeta.
Lugares mais urbanizados e ricos, por outro lado, tendem a contar com sistemas mais robustos de reciclagem. Entretanto, Bailey chama atenção para o fato de que, para as empresas, é mais barato produzir plástico virgem do que vender material reciclado.
Alternativas para diminuir o impacto
A reciclagem é uma boa opção para mitigar o impacto do consumo de plástico, mas não é suficiente. Em 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que a criação de um imposto pela emissão de carbono seria eficaz para desacelerar o ritmo do efeito estufa.
Os cientistas propõem que taxa semelhante seja cobrada pela produção de plástico. Isso incentivaria as indústrias a optarem por materiais recicláveis ou biodegradáveis. De acordo com George Leonard, chefe do grupo de defesa ambiental Ocean Conservancy, o governo poderia destinar o dinheiro arrecadado à criação de soluções para o problema, como melhoria na infraestrutura de gerenciamento de lixo.
O Brasil tem bons exemplos no desenvolvimento de materiais alternativos ao plástico. Recentemente, uma pesquisa feita na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) resultou na produção de um filme biodegradável proveniente do cará, tubérculo pertencente à família do inhame, conforme contou o Modefica.
Semelhante ao plástico, o filme poderia ser utilizado para embalar frutas e produzir sacolas. Depois, ainda serviria de alimento para os peixes ao ser descartado na água.
Contudo, o elevado preço da criação de materiais biodegradáveis ainda afasta os investimentos industriais. Segundo Bailey, a história mostra que “os esforços para frear a mudança climática são frequentemente limitados pela imposição da viabilidade econômica”.
Via: Wired