Estudo indica que coronavírus é mais letal entre negros e pardos no país

Segundo o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), a progressão de casos confirmados da doença no Brasil é influenciada pelas desigualdades no acesso ao tratamento
Luiz Nogueira28/05/2020 12h38, atualizada em 28/05/2020 13h15

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Segundo estudo feito pela PUC-Rio, o novo coronavírus, que já infectou mais de 400 mil pessoas no Brasil, tem se mostrado mais letal entre negros e pardos.

Para chegar ao resultado, foram analisadas as taxas de letalidade da doença no Brasil conforme variáveis socioeconômicas e demográficas da população. A verificação dos dados foi feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), liderado pelo Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC-Rio.

Com os dados atualizados de 18 de maio em mãos, os pesquisadores conseguiram avaliar cerca de 30 mil casos graves da doença que foram contabilizados pelo Ministério da Saúde. O resultado aponta que, do total de indivíduos que morreram de Covid-19, 55% eram negros e pardos; enquanto entre os brancos, os óbitos somam 38%.

Silvio Hamacher, coordenador do NOIS, observa que a progressão de casos confirmados da doença no país é influenciada por fatores socioeconômicos. “A letalidade em pretos e pardos sempre é superior à dos brancos, mesmo analisando pacientes da mesma faixa etária ou do mesmo nível de escolaridade. Isso demonstra que a taxa de letalidade do Brasil é influenciada pelas desigualdades no acesso ao tratamento”, diz.

Diferenças sociais

Os dados recolhidos para a pesquisa apresentam estatísticas de internação, raça e escolaridade. Com isso, foi possível concluir que a taxa de letalidade também estava ligada às diferenças sociais.

De acordo com o levantamento, há quatro vezes mais de chances (76%) de um paciente negro ou pardo sem escolaridade morrer da doença em comparação com um indivíduo branco com nível superior (19,6%). Se comparadas pessoas com o mesmo nível de escolaridade, a proporção de óbito dos negros é, em média, 37% maior do que os brancos.

Reprodução

Segundo especialistas, a doença também está ligada às diferenças sociais. Foto: skynesher

As informações ainda indicam que brancos sem escolaridade apresentam taxas de 48% de tratamento em enfermaria e 71% em UTIs; para os negros, essa proporção é mais alta, chegando a 69% e 87%, respectivamente.

No caso de possuir ensino superior, a diferença é ainda maior. Sendo de 7% de brancos em enfermaria, enquanto os negros são 17%. Considerando a UTI, a disparidade é de quase 60%, sendo 40% contra 63%, respectivamente.

Fator de risco

Outro estudo, de autoria conjunta do laboratório de pesquisa do Departamento de Medicina da Universidade de Cambridge e de um grupo de especialistas brasileiros, mostra um cenário semelhante.

Segundo o Departamento de Inteligência Artificial de Cambridge, a população que apresenta maior vulnerabilidade à doença no Brasil é “negra e pobre”. O estudo aponta que os números de óbitos brasileiros são reflexo direto das desigualdades sociais.

Os autores concluíram que o risco maior da doença se desenvolver para um quadro de óbito na população negra e parda está ligada às implicações sociais. Isso porque esses grupos possuem menos segurança social.

Por fim, a pesquisa conclui que há maior risco de mortalidade entre os brasileiros que se identificam como negros ou pardos. De acordo com os envolvidos no projeto, ser negro é um fator tão importante quanto a idade dos infectados.

Profissionais de Saúde

Além da maior taxa de morte entre negros e pardos, o Brasil também possui o maior número de óbitos entre enfermeiros do mundo, de acordo com levantamento feito pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN).

Dados do Cofen indicam que o país possui 157 mortes de profissionais de enfermagem. Esse número pode ser ainda maior conforme novos óbitos são contabilizados. O número do Brasil é maior que o dos Estados Unidos, por exemplo, que conta com 146 profissionais perdendo a batalha contra o vírus.

Segundo o conselho brasileiro, a tendência é que, com base nos dados apresentados até o momento – de aumento diário nos casos – haja um crescimento também no número de mortes na área. Por enquanto, segundo o Cofen, há 17 mil profissionais com confirmação da doença.

“Não é possível prever [o total] neste momento, pois a disseminação do vírus entre os profissionais de saúde depende, principalmente, da disseminação na população em geral. Além disso, fatores como afastamento ou não de profissionais integrantes de grupos de risco, adequação do fornecimento de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) e correta observação de protocolos de prevenção podem influenciar nos óbitos entre os profissionais de Saúde”, declara o Cofen.

Via: G1/ O Globo

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital