Nesta quarta-feira (1º), uma greve nacional promete atrapalhar a rotina de muita gente. Entregadores de aplicativos como Rappi, Loggi, iFood, Uber Eats e James vão promover uma paralisação por melhores condições de trabalho, medidas de proteção contra o risco de infecção pelo novo coronavírus e mais transparência na dinâmica de funcionamento dos serviços e das formas de remuneração.
Segundo informa a Agência Brasil, os entregadores cobram o aumento das taxas mínimas recebidas por cada corrida e o valor mínimo por quilômetro. Atualmente, eles são remunerados por corrida e pela distância percorrida, e por isso esses dois indicadores acabam definindo o pagamento por cada entrega.
A reclamação está relacionada aos baixos valores e à variação deles para baixo. “Tem dia que é R$ 1, tem dia que é R$ 0,50. O iFood e outras empresas mandam notificação para os clientes falando que já pagam. Não é verdade”, reclamou Simões, entregador do Rio de Janeiro e um dos responsáveis por organizar a greve.
Outra reivindicação é a mudança dos bloqueios dos trabalhadores, que consideram arbitrários. Eles criticam o fato de motoristas terem sua participação suspensa ou até mesmo cancelada a partir de critérios que não são claros e sem a possibilidade de apuração dos ocorridos e de direito de defesa dos envolvidos.
iFood é acusado de bloquear entregador por 48 horas sem entrar em contato. Foto: Reprodução
“Eles fazem um bloqueio injusto. Nós dependemos da plataforma pra trabalhar e para levar o sustento para casa. Eu e mais 40 motoboys fomos suspensos na Loggi. Paramos três dias pra reivindicar e, no segundo dia, nos bloquearam. Isso aconteceu no Rio de Janeiro e em São Paulo”, disse Alessandro Sorriso, da Associação dos Motoristas Entregadores do Distrito Federal.
Ele também dá como exemplo o iFood. “Você entrega o pedido, o cliente alega que não recebeu, o iFood manda outro pedido e acaba bloqueando o entregador por 48 horas sem sequer ligar para o entregador”, acrescentou.
Os entregadores questionam a falta de transparência das plataformas, que não deixam claras as formas de cálculo dos pagamentos e os critérios utilizados para a suspensão das contas dos trabalhadores.
Riscos da pandemia
Ainda de acordo com Sorriso, a greve também cobra providências mais efetivas em relação aos riscos da pandemia do novo coronavírus, bem como auxílio para aqueles que forem infectados e precisarem se afastar.
Segundo ele, algumas empresas não se manifestaram e não disponibilizaram apoio aos motoristas. Entre as que fizeram algo, ele cita o iFood, que entregou potes de álcool em gel e máscaras laváveis.
“Mas outras plataformas, como Rappi e Uber Eats, não se manifestaram. A Loggi só deu vidrinho de álcool em gel que não dava para usar em um dia. Conheço gente que pegou Covid-19. E quem pega não tem nenhuma assistência”, comentou o entregador.
Investigação
O Ministério Público do Trabalho (MPT) vem investigando os aplicativos há alguns anos. Foram ajuizadas ações civis públicas para reconhecimento do vínculo de emprego nas empresas Loggi e iFood, enquanto outras estão em fase de apuração. Até o momento, essas ações não foram julgadas.
Em março, o MPT chegou a recomendar diretrizes às empresas de aplicativos a serem ofertadas aos trabalhadores, para garantir condições adequadas e evitar infecção pelo novo coronavírus.
Aplicativos têm sido investigados há anos pelo MPT. Foto: Divulgação
Posicionamento dos apps
O entregador Simões relata que, até o momento, as empresas de entrega não entraram em contato para se reunir com os entregadores e iniciar uma negociação. Enquanto isso, as companhias vêm divulgando ações na mídia e aos seus usuários.
“A gente está indignado como a empresa trata uma coisa sem prova. Em vez de entrar em contato, solta notas para os comerciantes dizendo que vai ter greve, para ficar atento. A intenção não é fazer greve para fazer barulho, é porque temos reivindicações”, diz.
A Agência Brasil entrou em contato com o iFood, Uber Eats e Rappi, mas não recebeu retorno. Em sua conta no Instagram, o iFood publicou que “está ao lado dos entregadores”, que investiu R$ 25 milhões em proteção e segurança. A companhia declarou que foram distribuídos 4,5 mil litros de álcool em gel por dia e 800 mil máscaras reutilizáveis. O post argumentou ainda que, em maio, cada trabalhador recebeu R$ 21,80 por hora.