Impositivo, controlador, autoritário. É comum que aos chefes sejam associadas características nada agradáveis. Há quem diga, porém, que um bom líder deve ser o oposto disso. Um e-mail enviado em 2015 mostra que Tim Cook, CEO da Apple, está mais para a segunda opção — e essa pode ter sido a chave de seu sucesso.
O e-mail foi trazido à tona durante a audiência que, em julho, reuniu os CEOs de quatro das maiores empresas do mundo para depor sobre a prática antitruste. Entre os documentos fornecidos pela defesa e acusação, estava um e-mail enviado a Cook por um desenvolvedor de aplicativos que, apesar de admirar a Apple, estava insatisfeito com a política de revisão de apps da empresa.
O desenvolvedor, que teve sua identidade preservada, expressou seu descontentamento em doze longos parágrafos adereçados à caixa de e-mails de Cook. A carta começa com repetidos elogios à gigante do Vale do Silício, talvez uma estratégia para prender a atenção do CEO e fazê-lo ler as reclamações até o fim. Depois, o desenvolvedor faz uma série de críticas ao modo como a Apple revisa e classifica os aplicativos da App Store, supostamente prejudicando empresas menores.
Tim Cook, CEO da Apple. Imagem: Reprodução/Flicker
Primeiro, chama atenção o fato de Cook ter dado atenção ao e-mail. O próprio remetente reconhece estar falando com uma figura ocupada demais para levar em conta a opinião de alguém que, segundo suas próprias palavras, é “totalmente insignificante”.
“Eu não estou delirando o suficiente para pensar que somos parceiros ou que a Apple precisa de nós em qualquer aspecto”, diz a mensagem. “Claro que sou insignificante para o sucesso da Apple. A retirada do meu aplicativo da App Store não faria a menor diferença”.
Tim Cook não apenas leu o e-mail, como o considerou suficientemente importante para encaminhá-lo aos três vice-presidentes seniores da Apple, Eddy Cue, Phil Schiller e Craig Federighi.
Na mensagem, uma única palavra: thoughts? (em português, são quatro: “o que vocês acham?”).
Perfil como líder
Apesar de curta, a resposta de Tim Cook resume seu perfil como líder: simples, direto e colaborativo. Primeiro, ele deu atenção a quem ofereceu críticas construtivas à sua empresa; depois, pediu a opinião de seus colegas sobre o assunto. É justamente o oposto de alguém impositivo, controlador e autoritário.
O site Inc, que se atentou ao e-mail em questão, destaca que, ao contrário de Cook, Steve Jobs era conhecido por ser manipulador e autocentrado. Antes de morrer, ele mesmo chegou a admitir que a comunicação colaborativa não era um de seus pontos fortes. Apesar de ter sido genial à frente da empresa, Jobs sabia que alguém como Cook era o que a Apple precisava para seguir bem sucedida após a sua partida.
A publicação conta que, quando escolheu Cook para ser seu sucessor, Jobs deu um único conselho: “não imagine o que eu faria, faça o que você achar melhor”. Mais tarde, em entrevista à ESPN, Cook afirmou que atendeu ao pedido: “eu sabia que não poderia imitá-lo, pois falharia miseravelmente”, disse. Em vez disso, Tim Cook escolheu ser a melhor versão de si mesmo.
Via: Inc