CEOs de Apple, Google, Amazon e Facebook depõem nos EUA; confira destaques

Empresas são investigadas por práticas anticompetitivas e se defendem das acusações
Renato Santino29/07/2020 19h18, atualizada em 29/07/2020 23h00

20200729042203

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

O mercado de tecnologia viu nesta quarta-feira (29) um momento histórico. CEOs de quatro das maiores companhias do setor foram intimados por autoridades antitruste a depor no congresso dos Estados Unidos sob suspeitas de práticas anticompetitivas.

Jeff Bezos, da Amazon, Tim Cook, da Apple, Sundar Pichai, da Alphabet e do Google, e Mark Zuckerberg do Facebook, precisaram se apresentar diante de congressistas para se defender das acusações.

Confira alguns dos destaques do depoimento, que durou mais de 5 horas.

Google rouba outros sites?

David Cicilline, do partido democrata, direcionou uma pergunta dura a Sundar Pichai: “por que o Google rouba conteúdo de negócios honestos?”. Diante de uma resposta genérica do executivo, o questionamento foi aprofundado.

Cicilline pergunta se não há conflito de interesse entre o Google direcionar pessoas para resultados relevantes de buscas e promover clientes que pagam pela exibição de publicidade, mencionando inclusive um comunicado interno no qual a empresa se queixava de determinados sites de buscas direcionadas estavam recebendo muitos acessos.

Ele também questionou se a companhia se utilizava dos dados de tráfego da web a que tem acesso para identificar novos competidores e miná-los. A resposta também foi evasiva. “Como qualquer outro negócio, tentamos entender tendências a partir de dados a que temos acesso para melhorar nossos produtos para nossos usuários.

A compra do Instagram foi anticompetitiva?

Uma das aquisições mais importantes da história do Facebook, a do Instagram, por cerca de US$ 1 bilhão em 2012, chamou a atenção dos congressistas. Jerrold Nadler, do partido democrata, perguntou se o negócio foi feito apenas para tirar um competidor do caminho de Zuckerberg.

Mark Zuckerberg se defende afirmando que não há qualquer evidência de que o Instagram seria o sucesso que é hoje sem o apoio do Facebook. “A aquisição foi muito bem não apenas pelo talento dos fundadores, mas também por investirmos pesado em infraestrutura e divulgação e trabalhando na segurança e em outras coisas”, ele afirma.

A Amazon usa dados de vendedores para criar seus produtos?

Na primeira pergunta direcionada a Jeff Bezos, Pramila Jayapal, do partido democrata, pergunta ao executivo sobre uma acusação que surgiu em 2019 de que a empresa se aproveitava dos dados de vendedores em sua plataforma para desenvolver seus próprios produtos.

Bezos não confirma ou nega o tema. “Eu posso dizer que nós temos uma política contra usar dados específicos de vendedores para apoiar o nosso negócio de produtos próprios, mas não posso garantir que essa política nunca foi violada”.

Zuckerberg é questionado sobre o Twitter

Como um lembrete de que nem todos os congressistas têm o conhecimento necessário do mercado de tecnologia para questionar executivos de alto escalão de empresas do setor, James Sensenbrenner, do partido republicado, direcionou uma pergunta a Mark Zuckerberg sobre o banimento de Donald Trump Jr. da rede social por propagar desinformação sobre o uso de máscaras e a hidroxicloroquina.

Mark Zuckerberg precisou alertá-lo de que esse evento aconteceu, na verdade, no Twitter, rede social sobre a qual ele não tem nenhuma influência. De qualquer forma, ele reforçou que informações médicas inverídicas sobre o coronavírus podem ser um risco para as pessoas e devem ser removidas.

O Facebook clona recursos para sufocar e adquirir a concorrência?

Japayal também pressionou Mark Zuckerberg questionando se houve, em algum momento, uma iniciativa de copiar recursos de algum competidor ao mesmo tempo em que usava isso para ameaçá-los para ceder a uma oferta de aquisição.

Zuckerberg disse não se lembrar de algum momento específico em que isso aconteceu, então Jayapal pressionou o executivo um pouco mais para que ele se lembrasse de dois momentos específicos, citando o lançamento do Facebook Camera, em 2012, criado para concorrer com o Instagram antes da aquisição, e o Snapchat, que foi suprimido com a implementação dos stories em todas as plataformas da empresa, ao mesmo tempo em que vários relatos apontavam que o Facebook tentou comprar o aplicativo, mas sem sucesso.

Ela citou registros de conversas de Kevin Systrom, fundador do Instagram, citando que temia que o Facebook entrasse em “modo de destruição” caso não vendesse a empresa. Zuckerberg rejeitou essa visão.

Vocês toleram escravidão?

Os quatro CEOs presentes à ocasião precisaram jurar diante dos congressistas que não tolerariam uso de trabalho escravo para montagem de seus produtos na China após relatos de que empresas no país abusam de trabalhadores de etnia uigur.

A Amazon sufoca vendedores concorrentes na sua plataforma?

Dois congressistas distintos pressionaram Jeff Bezos sobre acusações de que a Amazon maltrata vendedores na plataforma. Lucy McBath, do partido democrata, citou relatos de que vendedores de livros disseram ser bloqueados de vender determinados produtos sem uma explicação clara. Bezos negou, afirmando que essa ação não corresponde com as políticas da empresa.

“O que você tem a dizer para os pequenos negócios que estão recorrendo ao Congresso porque você simplesmente não os escuta?”, perguntou ela. Bezos nega. “Eu não acho que isso acontece de forma sistemática”, ele responde.

Já Cicilline reforçou o questionamento citando outro vendedor que comparava o relacionamento com a Amazon com o uso de heroína, por ser temporariamente vantajoso, mas danoso no longo prazo, acusando a companhia de sistematicamente copiar os produtos que têm sucesso na plataforma. Bezos rejeitou essa caracterização. Então Cicilline questionou se não era essencialmente um conflito de interesse criar produtos que competem com outros vendedores em sua plataforma, o que também foi negado por Bezos, que alega que a compra é uma escolha do consumidor.

A App Store é anticompetitiva?

Val Demings, do partido democrata, questionou se a Apple não utiliza de práticas anticompetitivas com aplicativos desenvolvidos em sua loja para privilegiar suas próprias soluções.

Para embasar seu questionamento, Demings levantou o tema de aplicativos de controle parental que utilizavam uma tecnologia de gerenciamento de dispositivos móveis (MDM) que foi desativada quando a Apple introduziu uma função nativa nos iPhones, derrubando toda a competição no setor.

Tim Cook defendeu-se afirmando que a medida se baseou na questão de privacidade, e não para suprimir a competição, afirmando que há hoje mais de 30 aplicativos de controle parental na App Store e que a Apple não faz nenhuma receita com seu sistema de gerenciamento para pais. Ele também ressalta que a empresa aplica as mesmas regras para todos os desenvolvedores, de forma equânime.

A Amazon aceita prejuízos para quebrar a competição?

Uma prática malvista por órgãos regulatórios é quando uma empresa de grande porte vende um produto por um preço abaixo do custo de produção para quebrar a concorrência menor, que não pode se dar ao luxo de vender com prejuízo. Uma vez que não há mais competição, os preços sobem.

Então, Jamie Raskin questionou Bezos se a Amazon estava vendendo as caixas de som Echo, equipadas com a assistente Alexa, por preços abaixo de seu custo de produção, utilizando práticas desleais para atacar a competição. Bezos negou que isso seja recorrente, mas afirmou que isso pode acontecer apenas durante uma promoção.

Práticas desleais em publicidade?

Em questionamento a Sundar Pichai, Jayapal questionou sobre como o Google atua como vendedor e comprador de publicidade em sua plataforma, o que em tese permitiria introduzir seus próprios anúncios de forma barata em jornais e sites de grande circulação, que têm profundas dificuldades em se manter apenas com anúncios, mas cobrando caro de pequenos negócios que precisam da publicidade para se manter.

Pichai, no entanto, reforçou que a empresa “está profundamente comprometida com o jornalismo” na questão publicitária.

Ela também questionou se o Google não está direcionando anúncios de sua plataforma para suas próprias propriedades, como o buscador, em vez de exibi-las de forma igualitária em páginas pertencentes a outras empresas, ao que Pichai apenas respondeu que o foco da empresa é “prover ao usuário a informação que ele está procurando”.

Ainda na questão publicitária, Jayapal questionou Zuckerberg sobre o movimento Stop Hate for Profit, em que anunciantes interromperam a compra de anúncios no Facebook para forçar mais controle sobre desinformação e discurso de ódio. A congressista questiona se a empresa não se tornou grande demais ao ponto de não se importar se mais de 1.000 empresas deixam de comprar espaços publicitários na página.

Zuckerberg rebateu afirmando que a empresa se importa, sim, com o assunto, mas que não pretende mudar suas políticas apenas por pressão dos anunciantes. “Eu acho que a coisa errada a fazermos. Nós já nos importamos com o combate ao discurso de ódio há muito tempo”.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital