Cientistas criam tecido que pode ‘eletrificar’ vírus para inativá-lo

No entanto, invenção ainda não foi testada especificamente em amostras do novo coronavírus; criação promove uma reação eletroquímica que conseguem desativar o potencial de infecção em alguns casos
Luiz Nogueira25/06/2020 12h31

20200625094623

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Para ajudar a evitar a disseminação do novo coronavírus, o uso de máscaras de proteção se tornou algo indispensável. No entanto, mesmo cobrindo a boca e o nariz, as pessoas correm o risco de se infectarem ao tocarem acidentalmente em áreas do tecido que estão contaminadas com partículas virais e levar a mão ao olho, por exemplo.

Como uma possível solução para a questão, pesquisadores do Centro de Medicina Regenerativa e Engenharia da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, trabalham em um tecido capaz de inativar ou repelir a ação de patógenos.

De acordo com Chandan Sen, um dos principais nomes por trás da pesquisa, o objetivo é o de desenvolver uma maneira de tornar essas partículas inofensivas. Para isso, a equipe pesquisa materiais “eletro-náuticos” que “sem fio” conseguem gerar campos elétricos na superfície do tecido. Esses campos podem atrapalhar o comportamento de bactérias ou vírus no tecido.

“A beleza dessa tecnologia é o design inerentemente simples”, diz Sen. O material de poliéster é criado com pontos alternados de prata e zinco que lembram bolinhas em sua superfície. Eles têm de um a dois centímetros de largura e se espaçam um milímetro entre eles. Quando o material está seco, ele funciona como um tecido comum.

bandage-detail.jpg

Tecido criado pelos pesquisadores consegue ‘eletrocutar’ partículas de vírus. Foto: Reprodução

Mas se for umedecido – com saliva, vapor de uma gota tossida ou outros fluidos corporais – os íons do líquido desencadeiam uma reação eletroquímica. A prata e o zinco, em seguida, geram uma espécie de campo elétrico na superfície.

Ao contrário do que se pensa, a equipe não desenvolveu a tecnologia exclusivamente para o novo coronavírus. O trabalho acontece desde 2012. Na época, o material era testado em outros patógenos. Em resposta à pandemia da Covid-19, a criação foi testada em uma cepa de coronavírus um pouco diferente da atual. “Queríamos saber até que ponto esse princípio poderia ser aplicável”, declaram Sen.

O resultado do experimento foi publicado em maio no ChemRxiv. No documento, a equipe relata que o tecido consegui desestabilizar o vírus, deixando-o incapaz de infectar as células. Agora, o próximo passo é realizar a revisão por pares para garantir que os resultados são legítimos.

Realização do estudo

Para entender a ação do tecido, os profissionais molharam o material criado e outra amostra de poliéster sem os pontos de metal. A solução usada continha partículas virais e potencialmente perigosas.

Em seguida, os tecidos descansaram por cerca de cinco minutos para que absorvessem o líquido. A partir da recuperação das partículas virais de ambos, foi possível definir se elas ainda poderiam infectar células da mesma maneira que antes.

“Os dados coletados mostram que, do total de vírus recuperado, uma porcentagem significativa foi inativada”, diz Jeff Karp, professor de medicina do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, que não participou do estudo.

Apesar da eficácia, as habilidades de combate a vírus do material não foram testadas especificamente no Sars-Cov-2, que causa a Covid-19. As descobertas dos pesquisadores com os testes realizados até o momento, no entanto, deram a eles “esperança de que isso se aplicasse mais amplamente”, diz Sen.

Ele acrescenta que, ao desenvolver materiais que matam ou repelem vírus, espera-se que as máscaras e outros equipamentos de proteção individual (EPI) se tornem mais seguros. “Se uma pessoa comum tiver um EPI que não espalhe uma infecção, acho que é um grande passo”, acrescenta.

Por fim, o cientista informa que a fabricação em larga escala do tecido já é possível e que os custos de produção são relativamente baixos. Os pontos de metal podem ser impressos diretamente nas superfícies frontais das máscaras. Outra possibilidade é inserir uma camada do tecido entre a frente da proteção e o rosto dos usuários.

Via: Scientific American

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital