Como prática comum nos Estados Unidos, os departamentos estaduais de trânsito vendem dados cadastrais de seus motoristas. Amparados por uma lei nacional, os estados decidem por si quais informações vender. De modo geral, alega-se que o repasse de dados se limitam a nome, endereço e elementos sobre o registro de veículos.
No entanto, detetives particulares afirmam que o estado do Arizona, no sudoeste americano, vende informações mais específicas dos motoristas. Segundo eles, é possível ter acesso a fotos e, mais ainda, ao número de seguridade social – como o registro do INSS no Brasil – dos condutores. Isso tudo sem que os cidadãos saibam.
Conforme Dorian Bond, investigador particular e fundador da Bond Investigations, “em Phoenix, capital do Arizona, posso entrar nele [no sistema de dados do departamento] e conseguir a foto de alguém”, garante.
No cadastro de seguridade social, ficam arquivados os dados trabalhistas de um cidadão. Foto: Shutterstock
Já Valerie McGilvrey, uma skip tracer do Texas, no sul dos EUA, comenta que tem acesso aos números da previdência social e que isso é importante para determinar se a pessoa que está procurando é ela mesma.
Skip tracers – ou rastreador de salto – é o profissional que localiza o paradeiro de uma pessoa. Normalmente, eles são contratados para rastrear pessoas com pagamentos atrasados ou que são fugitivas.
O departamento de transportes do Arizona não desmentiu a informação. Segundo Douglas Nick, diretor-assistente de Comunicação para atendimento ao cliente, “a lei possui critérios para que investigadores particulares tenham acesso a fotos, e o Arizona pode fornecê-los nestes casos”.
A área ainda acrescentou que as informações de seguridade podem, sim, ser fornecidas. “Os números da previdência social são incluídos se os critérios forem atendidos”, completou.
Especialistas em privacidade e alguns políticos são bastante críticos a essa disponibilização de informações. Em uma carta enviada ao estado da Califórnia, no começo deste mês, um grupo de legisladores disse que as informações pessoais são frequentemente usadas para o lucro.
“É fundamental que os guardiões das informações pessoais dos americanos –de corporações a agências governamentais– cumpram altos padrões de proteção de dados para restaurar o direito à privacidade em nosso país”, sustentou o grupo.
Dados rendem até 50 milhões para os Estados
No ano passado, uma reportagem divulgou que o estado da Califórnia ganha, anualmente, cerca de 50 milhões de dólares vendendo informações pessoais dos condutores.
A descoberta veio mediante um pedido de acesso à informação pública, que mostrou que as informações são vendidas para diversas empresas e, também, para os investigadores particulares, inclusive para os que são contratados para investigar casos conjugais.
Questionado pela reportagem, o departamento de veículos da Califórnia alegou que o dinheiro da venda de dados proporciona serviços de segurança rodoviária e pública. E completou dizendo que trata com seriedade a obrigação de proteger os dados pessoais dos cidadãos.
“As informações são liberadas apenas de acordo com a orientação legislativa, e o DMV [Departamento de Veículos Motorizados] continua a revisar suas práticas de liberação para garantir que as informações sejam divulgadas apenas para pessoas ou entidades autorizadas, e apenas para fins autorizados”, assegura Marty Greenstein, chefe de informações públicas do estado da Califórnia.
Fonte: VICE