Análise: nem sempre ‘Mr. Robot’ acerta em cheio

Redação02/09/2016 16h03, atualizada em 02/09/2016 16h20

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O clima de fim de temporada já toma conta de “Mr. Robot” em “eps2.7_init_5.fve”, episódio exibido nesta quinta-feira, 1, no Brasil, e quarta-feira nos EUA. Mistérios começam a ser esclarecidos e arcos começam a chegar ao fim no que soa como uma contagem regressiva para o fim.

Ainda há espaço, porém, para algumas surpresas e revelações, embora nem sempre a série acerte em cheio nelas – tanto em termos de desenvolvimento de roteiro quanto em termos de fidelidade à tecnologia do mundo real. Confira nossa análise logo abaixo, tome cuidado com os spoilers e aproveite para recapitular a temporada.

O nono episódio da temporada começa respondendo ao principal mistério dos últimos capítulos: por que Elliot está na prisão? Embora faça muito sentido, a explicação oferecida é um pouco decepcionante, especialmente depois de todo o suspense criado no episódio anterior, em que Elliot sequer aparece.

Apesar de ter participado de um dos maiores crimes do século, o ataque hacker que desestabilizou a economia mundial e toda a ordem dos poderes capitalistas em vigência, Elliot foi preso por roubar um cachorro na primeira temporada. E também por invadir as contas pessoais do dono.

A explicação, em si, não chega a ser absurda. O último episódio da primeira temporada planta a semente, quando Michael diz a Krista (psiquiatra de Elliot) que eles precisam fazer alguma coisa sobre a invasão promovida pelo jovem hacker. Outras dicas foram jogadas ao longo da temporada, sem que muitos espectadores notassem. A ideia, em si, parece ter sido planejada desde o início.

O que incomoda é que esta revelação parece não levar a lugar algum. O fato de Elliot ter passado esse tempo todo na prisão não serviu para muita coisa, do ponto de vista da história. Se ele estivesse mesmo em casa com sua mãe, como sua fantasia nos fez acreditar, tudo teria sido muito mais interessante.

Tanto é que, enquanto Elliot estava na prisão, o personagem vivia um arco totalmente isolado do restante dos personagens. A trama principal seguia um ritmo, enquanto a do protagonista seguia outro – com direito a um longo momento de introspecção no início da temporada, que, para muitos fãs, foi um tanto quanto monótono.

Esse isolamento, por si só, não é um problema. Mas o motivo para o isolamento, e como a revelação chega simplesmente jogando fora toda a tensão criada nos últimos episódios, esse sim é o problema. “Mr. Robot” nos deixa acreditando que toda essa subtrama na prisão só serviu para deixar a temporada mais longa, sem qualquer outro motivo mais inteligente.

Reprodução

Mas vamos lá, tentemos ignorar esse deslize e focar nos acertos do episódio. Após toda a exposição de revelações sobre alguns dos mistérios da temporada, incluindo a relação entre Whiterose e o CEO da E Corp, o que o Dark Army quer com Cisco e Darlene e até quem bateu na porta no fim da primeira temporada, Elliot volta à liderança do que restou do fsociety.

A relação entre o personagem e seu alter ego, Mr. Robot, aos poucos também parece voltar ao “normal”. Elliot vê o fantasma de seu pai de uma perspectiva de fora, como o líder, uma figura messiânica que surge para resgatá-lo da apatia, com a voz e a postura de quem realmente sabe o que quer fazer. Um lado que o personagem desconhece sobre si mesmo.

É interessante ver como Elliot, mesmo incomodado com a ideia de dividir seu corpo com uma alucinação, confia em Mr. Robot para fazer o que ele não tem coragem. A performance de Rami Malek e Christian Slater nesses momentos é o que há de melhor no episódio, quando um tenta, de alguma forma, repetir os trejeitos do outro em pequenos gestos, na postura e até no tom de voz.

Mas mesmo o retorno de Elliot à vida de hacker não salva “Mr. Robot” de mais um erro no roteiro. Em certo momento, o personagem decide hackear o telefone de um emissário do Dark Army, contato de Cisco com o grupo chinês. Embora o método utilizado exista no mundo real, o hacking em si ocorre bem mais rápida e facilmente do que seria na realidade.

Esse não é o grande problema, porém. O principal deslize é a introdução do misterioso software de tradução simultânea utilizado por Darlene para escutar o que os chineses dizem próximo ao telefone hackeado. Que programa é esse que consegue traduzir um idioma tão complexo como o mandarim, em tempo real, e de maneira impecável?

Nem a Microsoft ou o Google, principais empresas interessadas em software de tradução simultânea, conseguem resultados tão bons quanto esse programa que aparenta ser de código aberto e baixado por algum site de compartilhamento P2P. Para uma série que se preocupa tanto em retratar a tecnologia de maneira realista, esse é um deslize difícil de perdoar.

Os minutos finais do episódio, porém, recuperam a atenção e o interesse do espectador. A verdade sobre o que aconteceu com Tyrell Wellick pode estar mais próxima do que nunca após a visita de Joanna à casa de Elliot. Mas o que mais Mr. Robot tem escondido do seu alter ego em relação à misteriosa “Fase 2” nos planos do Dark Army? E o que será que Cisco encontrou na casa onde o fsociety montou sua operação?

Falta apenas um episódio antes do fim da temporada, que chega ao clímax em um capítulo duplo a ser exibido em duas semanas. A terceira temporada já foi prometida para 2017, então resta aos fãs esperar e tentar se antecipar aos segredos que “Mr. Robot” ainda guarda.

“Mr. Robot” é exibido no Brasil pelo canal Space, toda quinta-feira, às 23h20.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital