“Mr. Robot” é uma série diferente de tudo o que se vê na TV, e não apenas pela temática original. A produção do nova-iorquino Sam Esmail é cheia de cuidados com direção de arte, fotografia, roteiro e, principalmente, com o desenvolvimento de sua trama e de seus personagens.

Desde a primeira temporada, a série não tem pressa para fazer as coisas acontecerem, preferindo, por diversas vezes, diminuir o ritmo e dar mais tempo para que o espectador se envolva com os personagens. Mas no quarto episódio, “init1”, exibido esta semana nos EUA e no Brasil, a segunda temporada parece que finalmente começou para valer.

A partir daqui, cuidado com spoilers.

Como os episódios anteriores, “init1” começa numa total quebra de ritmo, jogando o espectador para um passado anterior ao início da primeira temporada. Vemos Elliot e Darlene numa época precedente à formação do fsociety, num breve vislumbre do que pode ter sido a origem da dupla personalidade do protagonista.

É nesse início que a série mais uma vez dá um show em termos de roteiro, arte e fotografia, com um clima de filme de suspense Hitchcockiano da década de 1950, incluindo uma trilha musical inebriante e uma delicada dilatação proposital da passagem do tempo. A seguir, o episódio mostra a que veio.

O tema da vez é o uso de máscaras. O filme que Elliot e Darlene assistem na introdução do capítulo, o fictício “The Careful Massacre of the Bourgeoisie”, mostra não só a origem da máscara literal que Mr. Robot usa em suas transmissões de ameaça à Evil Corp, como também cria um paralelo com a máscara metafórica do protagonista.

Quando o episódio corta para o tempo presente, uma rápida cena no metrô mostra Darlene cercada pelas “máscaras” do dia a dia: dois amigos usando máscaras de gás, um homem usando uma máscara hospitalar e até uma mulher com um visor de realidade virtual. Esconder a própria identidade como uma forma de se proteger de ameaças externas – não seria esse também o sentido do anonimato dos hackers na web?

A máscara de uma dupla identidade também atormenta o protagonista. A dúvida quanto ao homem que de fato vive e opera naquela corpo, Elliot ou Mr. Robot, finalmente é colocada em termos simples: um jogo de xadrez, em que o vencedor leva “tudo”. No fim das contas, porém, não há vencedores, já que trata-se de dois lados de uma mesma moeda duelando por sua própria identidade partilhada.

“Mr. Robot” se concentra então em mover adiante seus principais heróis. Se os outros três episódios da temporada preferiram situar o expectador nesse novo mundo, pós-9 de maio, aprofundar-se na loucura de Elliot e nas escolhas de Darlene e Angela, a partir daqui o passado é deixado de lado e a série olha para o futuro, aceitando suas decisões recentes e focando-se no que espaço adiante para evoluir.

Não é a toa que “init1” retoma o uso de jargões do mundo hacker, incluindo novas cenas de invasão de sistemas, prompts de comando, códigos, e, finalmente, as telas de computador que tanto faziam falta. A série finalmente decide dar aos fãs de tecnologia o que eles mais queriam ver, concluindo que o tempo de explorar a psicologia dos personagens já passou.

Ao fim do capítulo, quando Elliot mais uma vez se vê diante de um terminal, com uma arma (figurativa) apontada para a sua cabeça e a voz de Mr. Robot instando-o a voltar à missão de mudar o mundo pela web, temos uma certeza nostálgica: nosso herói, como o conhecemos na primeira temporada, está de volta. Agora, finalmente, a segunda temporada pode começar.

Leia nosso review da temporada até aqui:

“Mr. Robot” é exibido no Brasil pelo canal Space, toda quinta-feira, às 23h20.