Spray para máscaras neutraliza o novo coronavírus por três dias

Solução criada por cientistas da Unicamp é composta por sais de cobre e uma mistura de polímeros biodegradáveis; íons liberados pelo spray atacam o vírus, destruindo o seu revestimento
Fabiana Rolfini06/11/2020 17h35, atualizada em 06/11/2020 17h46

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Pesquisadores do Laboratório de Engenharia e Química de Produtos (Lequip), da Unicamp, descobriram que as interações de íons metálicos com polímeros naturais também são capazes de inativar o Sars-Cov-2, vírus causador da Covid-19. Assim, criaram uma tecnologia capaz de formar uma capa protetora ativa e de ação prolongada em máscaras, que neutraliza o coronavírus por contato.

Batizada de SprayCov, a solução eliminou o coronavírus depois de apenas um minuto e manteve 99,99% de eficácia nas 48 horas seguintes. A aderência foi testada em diversas superfícies, alcançando os mesmos resultados em tecidos e não-tecidos.

A tecnologia é indicada para EPIs (equipamentos de proteção individual) de profissionais de saúde, mas o spray também pode ser borrifado em máscaras de algodão. E o melhor, o custo de recobrimento de máscaras com o SprayCov foi calculado pelos pesquisadores em pouco menos de R$ 0,02 por máscara.

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Indicado para EPIs de profissionais de saúde, spray também pode ser borrifado em máscaras de algodão. Imagem: Maridav/Shutterstock

“Nossa fórmula não é um agente sanitizante como o álcool 70 ou o hipoclorito de sódio que usamos na limpeza, esse é um processo para tornar a máscara capaz de inativar o vírus”, explica Marisa Masumi Beppu, professora titular da Faculdade de Engenharia Química e fundadora do Lequip.

Como funciona o SprayCov

A ideia é conferir uma barreira ativa que destrua o vírus assim que ele tiver contato com a superfície recoberta. Além de sais de cobre, que já são usados há mais de um século na agricultura como fungicidas, o spray também é composto por uma mistura de polímeros biodegradáveis que funcionam como uma espécie de cola para a fixação dos sais.

Amostras do Sars-Cov-2 e de um modelo dele, chamado de MHV (outro tipo de coronavírus, mais resistente e que afeta apenas camundongos) foram colocadas em contato com a fórmula e células vivas in vitro. O SprayCov não apresentou toxicidade para as células, inibiu a replicação do coronavírus por três dias e ainda reduziu a capacidade de inoculação, desarticulando os mecanismos que permitem a instalação da doença.

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Camada externa do Sars-Cov-2, que permite a ele entrar nas células humanas, é destruída pelo SprayCov. Imagem: Daniel Roberts/Pixabay

O recobrimento libera íons que atacam o vírus. Essas partículas eletricamente carregadas causariam rupturas, decompondo e destruindo o envelope que reveste o microorganismo. “Nessa camada mais externa, composta de glicoproteínas, ficam todas as informações genéticas que permitem ao coronavírus entrar em nossas células. Uma vez desfeita, o vírus deixa de existir e não consegue mais infectar o hospedeiro”, explica Clarice Weis Arns, professora titular do Instituto de Biologia, e responsável pelos testes.

Os pesquisadores acreditam que o invento possa ainda ser eficaz contra outros vírus causadores de doenças respiratórias, como a Influenza provocada pelo H1N1. Com os resultados promissores, a Agência de Inovação Inova Unicamp fez o pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial e está promovendo a oferta ativa da tecnologia a empresas com potencial para licenciar a tecnologia e levá-la ao mercado.

Via: Unicamp

Fabiana Rolfini é editor(a) no Olhar Digital