Para ajudar laboratórios engajados no estudo do novo coronavírus, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), criaram uma plataforma digital para a troca de insumos. A iniciativa se mostrou bastante eficaz e valiosa no abastecimento laboratorial.

O sistema, chamado SociaLab, foi lançado no início de março e funciona como uma espécie de rede social para laboratórios de todo o Brasil. Nela, cientistas podem compartilhar reagentes e células com outros locais que buscam por amostras. Tudo de forma gratuita.

A troca dos materiais tem como objetivo acabar com fatores debilitantes enfrentados diariamente pela ciência brasileira, como a falta de reagentes básicos, burocracia em excesso e a demora para recebimento de insumos – que, muitas vezes são importados e tendem a custar muito caro.

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Além de ajudar universidades menores, por exemplo, a iniciativa promove a redução da competitividade no cenário da ciência brasileira. Os casos de projetos encerrados ou adiados por falta de material são cada vez mais comuns. Com essa plataforma, esse cenário começou a mudar.

Coronavírus

Com a ameaça do novo coronavírus, ao sistema está sendo utilizado quase que exclusivamente para a troca de insumos essenciais para o escalonamento dos esforços de combate à doença.

Um claro exemplo de uso dos recursos vem do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Eles estão à frente do esforço dos testes moleculares de identificação do vírus, mas encontram dificuldades para encontrar reagentes indispensáveis para o processo – material que está em falta no mundo todo em função da pandemia.

Por esse motivo, decidiram usar a plataforma para encontrar laboratórios que possuam os materiais necessários e que podem doá-los para que a pesquisa possa continuar. Luis Carlos de Souza Ferreira, pesquisador e diretor do ICB, disse que vê com otimismo a iniciativa, e que ela representa “algo estratégico para a ciência brasileira.

Funcionamento

Por exemplo, para um experimento científico, um laboratório necessita de uma quantidade específica de um reagente. Se ele estiver em falta, é necessário comprá-lo. Normalmente, esses produtos são importados e muito caros. Além de demorar semanas para que sejam entregues.

Com o sistema, o local cadastra sua necessidade. Em seguida, é feito um cruzamento de dados em um inventário cadastrado pelos próprios laboratórios. Todo o processo é feito de forma automática.

Com a procura feita e o material encontrado, uma mensagem é enviada informando que pesquisadores precisam de um pouco daquele produto. Cabe ao laboratório que recebeu a solicitação decidir se vai ajudar. Caso a resposta seja positiva, ambos são colocados em contato para acertar os detalhes; caso contrário, como a procura é feita de forma anônima, ninguém fica sabendo de uma possível recusa.

O único gasto real é o de postagem do material solicitado, que deve ser pago por quem solicitou a doação. Até o momento, há 50 laboratórios cadastrados na plataforma, espalhados em mais de 20 estados. Em se tratando de insumos, o sistema contabiliza mais de oito mil reagentes e mil linhagens de células disponíveis para solicitação.

O serviço acaba sendo muito vantajoso para os pesquisadores brasileiros, já que, dificilmente, durante uma pesquisa, todos os produtos comprados são utilizados. De acordo com Lucio de Freitas Junior, criador da iniciativa e pesquisador do ICB, somente 20% do material comprado é utilizado, enquanto os outros 80% deve ser armazenado, ocupando espaço até que, eventualmente, passe da validade e tenha de ser descartado.

Por esse motivo, para o pesquisador, vale mais a pena doar o material para alguém que precisa do que guardar algo que não será usado e ainda custará caro quando precisar ser jogado fora – já que esses produtos exigem um processo de incineração que gera custos para as instituições.

Benefício extra

Além dos laboratórios, fabricantes e importadoras de insumos também se beneficiam com a plataforma. Muitas deles possuem produtos em estoque que estão próximos do vencimento. Para evitar gastos desnecessários com descarte adequado, eles disponibilizam os materiais para o SociaLab que, por sua vez, faz um sorteio para decidir com quem os produtos devem ficar.

Essa ideia já beneficiou 23 pesquisadores que participaram dos dois sorteios realizados pela plataforma e conseguiram ganhar produtos no valor de R$ 19 mil. Um terceiro sorteio está em andamento e promete um total de R$ 35 mil em materiais.

Via: Uol