Ainda em meio à pandemia de coronavírus e consequentes atividades remotas, alunos de universidades ao redor do mundo estão começando a se incomodar com os métodos empregados pelas instituições, que optam por vigiar seus estudantes em detrimento da privacidade dessas pessoas.

Alguns países estão tentando retomar as aulas presenciais, mas, apesar dos esforços para conter a disseminação da Covid-19, milhares de casos da doença continuam sendo confirmados todos os dias. No Reino Unido, por exemplo, após o retorno de uma nova onda de alunos aos campi, 32 universidades registraram novos infectados. Por mais que os estudantes considerem as restrições impostas uma forma de “falsa prisão”, tudo indica que as aulas voltarão a ser apenas online.

Contudo, para os alunos, o problema maior neste caso é que alguns aplicativos se tornam verdadeiras ameaças à privacidade. Em agosto, já incomodados com a situação, estudantes da Universidade Nacional da Austrália (ANU, na sigla em inglês) promoveram protestos contra o download forçado do Proctorio, um software – que está mais para um spyware – de monitoramento remoto, em seus dispositivos móveis.

Muito popular internacionalmente, o Proctorio é uma solução de “exame remoto seguro” utilizada para controlar avaliações que conta com recursos de espionagem, como microfone, câmera e até mesmo rastreamento ocular, para sinalizar qualquer comportamento suspeito.

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Estudantes da ANU não estão de acordo com a instalação do Proctorio em seus dispositivos. Imagem: EQRoy/Shutterstock

Os alunos consideram o Proctorio é uma afronta à privacidade que “ultrapassa os limites”, visto que o software foi instalado involuntariamente em dispositivos domésticos, como celulares e PCs pessoais, em vez de em equipamentos fornecidos pela universidade.

De acordo com a Electronic Frontier Foundation (EFF), organização sem fins lucrativos cujo objetivo é proteger os direitos à liberdade de expressão, as manifestações estão ganhando adeptos em todo o mundo, com dezenas de protestos semelhantes tomando forma. Variações do Proctorio, como os softwares Honorlock e ProctorU, também se tornaram alvos.

Como as restrições sociais estão distantes do fim e cabe às universidades a formação de milhares de estudantes, o ensino remoto continuará tendo um papel importante e necessário no contexto da pandemia. Ainda assim, as questões de segurança precisam ser uma pauta e os softwares de monitoramento devem ser utilizados com transparência e por um tempo limitado ao período das aulas.

“Embora quase todas as petições que vimos levantem questões de privacidade muito reais – desde a coleta de dados biométricos às permissões muitas vezes amplas que esses aplicativos exigem sobre os dispositivos dos alunos, até a vigilância dos ambientes pessoais dos alunos – essas petições deixam claro que aplicativos de monitoramento também levantam preocupações sobre segurança, equidade, acessibilidade, custo, aumento de estresse e preconceito na tecnologia”, disse a EFF.

Via: ZDNet