Um estudo liderado por pesquisadores da University College London (UCL), no Reino Unido, identificou que as mutações já documentadas do novo coronavírus (Sars-Cov-2) não tornam o agente infeccioso mais transmissível. A pesquisa analisou o sequenciamento genético de vírus extraídos de mais de 15 mil pacientes com Covid-19, de 75 países.

Os resultados foram divulgados em pré-publicação. Ou seja, o trabalho ainda não foi publicado em um periódico científico e não passou pela revisão de pares acadêmicos. A iniciativa, no entanto, baseou-se em outro artigo descrito na revista Infection, Genetics and Evolution, em abril, que relatou uma série de mutações do genoma do novo coronavírus.

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“Nós empregamos uma nova técnica para determinar se os vírus com as novas mutações são realmente transmitidos a uma taxa mais alta, e o que nós encontramos é que nenhuma das mutações parece estar beneficiando o vírus”, afirmou o professor do Instituto de Genética da UCL, François Balloux.

Mutações prejudiciais ao vírus

Assim como outros agentes virais, o Sars-Cov-2 pode desenvolver mutações de três maneiras: a partir de variações no processo de replicação do vírus; por interações com outros vírus em uma mesma célula infectada; ou por modificações induzidas pelo sistema imunológico do hospedeiro. Essas mutações podem ser neutras ou gerar vantagens e desvantagens para a sobrevivência e disseminação do vírus.

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A equipe de pesquisadores da UCL identificou o total de 6.822 mutações do novo coronavírus durante análise de conjuntos de dados globais. A pesquisa apontou que 273 casos apresentaram fortes evidências que as variações genéticas ocorreram de forma repetida e independente. Deste grupo, os cientistas selecionaram 31 mutações que ocorreram pelo menos dez vezes durante a pandemia.

Para estudar o potencial de transmissão dessas mutações, a pesquisa modelou a linhagem de evolução do vírus. Os cientistas então analisaram se as variações genéticas tornaram as infecções desses vírus predominantes em relação a outros agentes que não carregam a mutação. Os resultados não apontaram evidências que as mutações aprimoraram a capacidade de contágio do novo coronavírus.

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Em vez disso, a maior partes das modificações foram classificadas como neutras ou levemente prejudiciais ao próprio vírus.

Reprodução

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A pandemia do novo coronavírus provocou 345 mil mortes e infectou mais de 5,4 milhões de pessoas no planeta, até esta segunda-feira (25). Imagem: Wikicommons

Uma das variações genéticas analisadas afeta, inclusive, a proteína espinhosa do novo coronavírus. A estrutura é entendida por muitos cientistas como o principal instrumento do antígeno para infectar as células humanas e se reproduzir no organismo. O estudo relata, porém, que a mutação na proteína não está associada ao crescimento da transmissão viral.

O trabalho dos pesquisadores da UCL ainda afirma que as mutações mais comuns parecem ter sido induzidas pelo sistema imunológico humano, em vez de representarem o resultado da adaptação do vírus aos hospedeiros.

“É de se esperar que um vírus mude e, eventualmente, divida-se em linhagens à medida que se torna mais comum em populações humanas, mas isso não implica necessariamente que surgirão linhagens mais transmissíveis ou agressivas”, afirmou a primeira autora do projeto e professora da UCL, Lucy van Dorp.

Fonte: Medical Express