EUA registra reinfecção por Covid com segundo contágio mais grave que o primeiro

Pesquisadores relatam caso de homem de 25 anos no estado de Nevada com diferença de 48 dias entre os dois testes positivos; análise genômica reforça vírus diferentes
Renato Santino28/08/2020 21h28, atualizada em 28/08/2020 21h45

20200828064441-1920x1080

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Aos poucos, mais casos de reinfecção pelo Sars-Cov-2 começam a ser catalogados pela ciência. Depois do primeiro registro de Hong Kong, confirmado após sequenciamento genético do vírus, um paciente nos EUA, do estado de Nevada, foi diagnosticado pela segunda vez com a Covid-19 após se curar em abril. O segundo caso foi registrado no fim de maio, com apenas 48 dias de diferença entre os dois testes positivos.

O que torna o caso relatado como preprint na revista Lancet diferente é que, desta vez, a segunda infecção foi mais severa do que a primeira, fazendo com que o paciente, de 25 anos, fosse hospitalizado e recebesse oxigênio. Da primeira vez, ele conseguiu se recuperar em isolamento em sua casa. No caso de Hong Kong, a segunda infecção foi assintomática, gerando suspeitas de que talvez a memória imunológica do organismo tenha proporcionado um caso mais leve; o caso americano mostra que isso pode não ser a regra para um segundo contágio.

Assim como o paciente de Hong Kong, o caso de Nevada contou com sequenciamento genético do vírus que permitiu aos pesquisadores deduzirem que realmente são duas infecções distintas, como relata o site Ars Technica. Existem situações em que o coronavírus apenas se mantém “dormente” no organismo e se manifesta novamente, o que passa a impressão de uma segunda infecção após a cura, mas ainda é a primeira.

Pelo mapeamento do RNA viral, os cientistas perceberam que havia uma série de diferenças pequenas no código genético das amostras da primeira e da segunda infecção. Mutações são um processo natural para um vírus, mas, pelos cálculos dos pesquisadores, para o vírus ter chegado a este ponto com uma única infecção ele precisaria ter se alterado em um ritmo 3,6 vezes mais alto do que é conhecido pela ciência atualmente. Então, a tendência é que sejam contágios distintos.

Por mais que os casos comecem a aparecer, ainda parecem raros os casos de reinfecção, pelo menos em um período tão curto, já que já são mais de 20 milhões de casos confirmados no mundo desde o início do ano. O organismo humano não é uma máquina e corpos diferentes podem produzir respostas diferentes ao vírus. Como não foi realizado um teste sorológico do paciente de Nevada após a primeira infecção, não se sabe se ele chegou a desenvolver anticorpos contra a doença. No caso de Hong Kong, um teste indicou que o corpo não tinha criado os anticorpos IgG.

Existem uma série de estudos indicando que anticorpos podem não ser o mecanismo de defesa mais importante no caso da Covid-19, já que eles podem desaparecer em questão de alguns meses. Pesquisadores defendem que as células T devem ter um papel maior na prevenção e reação ao vírus, eliminando as células infectadas impedindo a replicação do vírus e permitindo a geração rápida de anticorpos em caso de novo contágio.

De qualquer forma, como são poucos casos de reinfecção catalogados pela ciência, os pesquisadores ainda não têm respostas conclusivas. É esperado que a imunidade não seja eterna, como visto com outras doenças causadas por coronavírus como Sars e Mers, mas a Covid-19 é muito nova para determinar qual é o “prazo médio” para essa reinfecção ser possível, ou quais condições determinam como é a resposta imunológica de cada pessoa.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital