Mesmo com mais de 19 milhões de infectados pelo mundo e pouco mais de oito meses após o início do surto, o novo coronavírus permanece misterioso. Isso porque alguns pacientes ainda apresentam sintomas novos, mesmo que em menor escala, o que acende um alerta sobre a capacidade do vírus.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente os sintomas são divididos em três categorias: comuns, menos recorrentes e graves. No primeiro grupo estão febre, tosse seca e cansaço – sinais apresentados pela maioria da população que é infectada.
Tosse seca é um dos sintomas mais comuns da Covid-19. Foto: Divulgação
Os menos recorrentes incluem dor de garganta, diarreia, conjuntivite, dor de cabeça, perda de paladar ou olfato e erupção cutânea. Por fim, os infectados que normalmente necessitam de atendimento médico apresentam quadros de falta de ar e dificuldades para respirar; dores e pressão no peito; e até perda de movimento e da fala.
Mas, além dos citados, pesquisas recentes citam alguns outros indícios como dor no peito, delírios e problemas gastrointestinais. Apesar de terem sido descritos em estudos, os sintomas ainda necessitam de confirmações vindas de outros trabalhos e de autoridades médicas.
Problemas gastrointestinais
O sintoma foi descrito em uma pesquisa publicada este mês pela revista médica European Review for Medical and Pharmacological Sciences. De autoria de um grupo de cientistas italianos, o projeto observou um conjunto de 105 pacientes – do total, 34 estavam infectados pelo coronavírus e 71 não possuíam a doença.
A observação principal foi que, quando os pacientes eram internados, havia uma presença de 8,8% de sintomas gastrointestinais. Outra observação feita é que os pacientes que apresentaram esses problemas tiveram uma taxa de mortalidade mais baixa.
“Nossos resultados destacaram uma frequência não negligenciável de sintomas gastrointestinais em pacientes com Covid-19, em parte atribuída às terapias implementadas”, descrevem os pesquisadores.
A conclusão apontada pelos especialistas é que, como os sintomas estavam associados a taxas de mortalidade menores, os sinais podem estar associados com a redução da carga viral no corpo humano.
Delírio
Em julho, um estudo feito pela University College London, publicado pela revista Brain, descobriu que consequências neurológicas podem estar presentes em alguns pacientes. Foram detectados níveis de delírio, inflamação cerebral, derrame e até danos nos nervos.
O que intrigou os pesquisadores foi o fato de alguns infectados não apresentaram os sintomas respiratórios comuns da doença, fazendo com que o distúrbio neurológico fosse o primeiro sinal do vírus.
“Identificamos um número maior do que o esperado de pessoas com condições neurológicas, como inflamação no cérebro, que nem sempre se correlacionam com a gravidade dos sintomas respiratórios”, disse Micheal Zandi, principal autor do estudo.
No estudo, os especialistas descreveram os sintomas neurológicos de 43 indivíduos com idades que variavam entre 16 e 85 anos. Do total, foram identificados 12 casos de inflamação cerebral, dez de disfunção cerebral temporária, oito pessoas com danos nos nervos e oito derrames.
Pouco depois, o jornal The New York Times fez uma publicação compilando relatos de indivíduos que apresentaram alguns dos sintomas citados durante o período de infecção.
Pleurite e dor no peito
Com base no caso de um paciente, Christopher Oleynick, pesquisador da Universidade de Calgary, no Canadá, desenvolveu um estudo que mostra como a dor no peito pode estar associada à Covid-19.
Segundo ele, um paciente de 48 anos, com hipertensão e diabetes tipo 2, foi hospitalizado com fortes dores no peito. Ao ser examinado, foi constatado que o homem apresentava pleurite viral – inflamação no tecido que reveste os pulmões.
Após um tempo, ele também desenvolveu falta de ar e febre alta. Ao ser submetido a um teste, o resultado por positivo para o novo coronavírus. De acordo com o pesquisador, a situação “enfatiza ainda mais que a doença pode apresentar sintomas atípicos”.
Perda de olfato e paladar
Mesmo já sendo considerado um sintoma, a perda de olfato e paladar ainda é estudada, pois, em alguns casos, pacientes descrevem que a situação é persistente.
Em uma pesquisa publicada recentemente na revista JAMA, cientistas dos hospitais Guy’s e St Thomas’ descrevem as observações feitas em um grupo de 202 pacientes infectados pela doença. Do total, 55 disseram que os sentidos retornaram após algum tempo. Em 46 os sintomas foram menos presentes. No entanto, 12 casos relataram que o olfato e o paladar não haviam voltado.
“Embora a gente tenha encontrado uma alteração do olfato e do paladar mais frequente entre as mulheres no início do estudo, outras 8 associações pequenas e clinicamente sem sentido também foram observadas entre a persistência desses sintomas e o sexo ou idade”, descrevem os autores do artigo.
“Por outro lado, uma maior gravidade do comprometimento do olfato e do paladar ocorreu no início do tratamento, razoavelmente devido a uma lesão no nervo olfativo. Isso foi associado a uma menor chance de recuperação após quatro semanas”, finalizam.
Mesmo com os dados, não foi possível determinar exatamente quando os sintomas surgem e somem. Por conta disso, estudos mais aprofundados ainda precisam ser realizados.
Problemas neurológicos em crianças
Uma iniciativa do hospital londrino Great Ormond Street Hospital for Children procurou sinais de problemas neurológicos em crianças infectadas pela Covid-19. Foram 27 crianças observadas para obtenção dos resultados.
Quatro delas apresentaram sintomas neurológicos recentes – mesmo sendo saudáveis antes. Elas desenvolveram dores de cabeça, sinais no tronco encefálico e cerebelar, reflexos reduzidos e fraqueza muscular. Além disso, há alguns casos de alterações no músculo do esplênio.
“Crianças com Covid-19 apresentaram novos sintomas neurológicos envolvendo o sistema nervoso central e periférico, e alterações esplênicas de imagem, na ausência de sintomas respiratórios da doença. Pesquisas adicionais são necessárias para avaliar a associação de sintomas com alterações imunológicas em crianças”, declaram os autores.
Via: G1