Instituto Butantan pesquisa nova vacina para o coronavírus; entenda

Produto é inspirado em mecanismo usado por bactérias para ludibriar o sistema imunológico humano
Redação04/05/2020 22h40, atualizada em 04/05/2020 23h38

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Pesquisadores do Instituto Butantan trabalham em uma nova vacina para a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. De acordo com nota publicada pelo Governo do Estado nesta segunda-feira (4), a iniciativa visa produzir uma solução acelular, que estimula a resposta imune do organismo por meio da injeção de membranas orgânicas com proteínas da superfície do vírus.

A vacina é inspirada em um mecanismo observado em certas bactérias para ludibriar o sistema imunológico. Elas liberam vesículas que atraem a ação de anticorpos e outras células relacionadas a defesa do organismo. Essas membranas servem como iscas para ocupar o sistema imune enquanto a bactéria fica livre para se multiplicar.

Apesar de configurarem uma “distração”, as vesículas estimulam a memória imunológica do organismo. Os cientistas do Butantan pretendem produzir estruturas semelhantes em laboratório, mas com proteínas do novo coronavírus acopladas a elas. A expectativa é que a vacina possa induzir o corpo a criar mecanismos de defesa contra as atividades específicas dessas proteínas virais.

Reprodução

Até a noite desta segunda-feira (4), o Brasil registrava 7.288 óbitos registrados e 105.222 casos confirmados de Covid-19. Foto: Wikicommons

“A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada”, explica Luciana Cezar Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan, à Agência Fapesp.

Na prática, as proteínas recombinantes do novo coronavírus são utilizadas para estimular a produção de anticorpos específicos para o antígeno, ao passo que as membrana externas (também conhecidas como OMVs) servem como suporte para “apresentar” as proteínas ao corpo, assim como para reforçar a reação imunológica.

“As vesículas de membrana externa podem modular a resposta imunológica, em geral, aumentando e melhorando a proteção. No nosso caso, usaremos as OMVs para uma apresentação do antígeno com forte poder adjuvante embutido, que garante uma resposta melhor”, pontua Cerqueira Leite.

Linha de pesquisa

O desenvolvimento da vacina é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e integra uma plataforma de pesquisa que envolve o estudo de vacinas para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose a partir de técnicas associadas à vacina BCG – usada para prevenir formas graves de tuberculose em crianças e testada como um possível tratamento para a Covid-19 em outros países.

De acordo com a nota do Governo de São Paulo, diante da pandemia do novo coronavírus, foi criada uma nova linha de pesquisa exclusiva para a investigação de uma vacina contra a Covid-19.

Embora o comunicado não aponte previsões para a conclusão do estudo do Instituto Butantan, a pesquisadora Cerqueira Leite destaca que “no mundo todo, e aqui no Brasil também estão sendo testadas diferentes técnicas” e a abordagem do órgão deve “demorar mais para sair”. Ela ressalta, no entanto, a importância de desenvolver múltiplas técnicas simultaneamente.

“Esperamos que [as vacinas em desenvolvimento] funcionem, mas o fato é que ninguém sabe se vão realmente proteger. Neste momento de pandemia, não é demais tentar estratégias diferentes. A nossa abordagem vai demorar mais para sair, mas, se aquelas que estão sendo testadas não funcionarem, já temos os planos B, C ou D”, diz a pesquisadora.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital