Algumas das maiores empresas farmacêuticas do mundo rejeitaram uma proposta feita pela União Europeia há três anos para acelerar o desenvolvimento e a aprovação de vacinas. A revelação foi feita pelo jornal britânico The Guardian, a partir de um relatório publicado pelo centro de pesquisas Corporate Europe Observatory (CEO).
Com sede em Bruxelas, o CEO examina as decisões tomadas pela Innovative Medicines Initiative (IMI), uma parceria público-privada cuja função é apoiar pesquisas de ponta na Europa, e que possui um orçamento de 5 bilhões de euros.
O plano para acelerar o desenvolvimento e a aprovação de vacinas de patógenos como o novo coronavírus – e permitir que elas sejam desenvolvidas antes de um surto – foi apresentado por representantes da comissão europeia que participam da IMI, mas foi rejeitada por membros da iniciativa que fazem parte da indústria farmacêutica.
A proposta de financiamento para “biopreparação” em 2017 envolveria, entre outras medidas, uma análise aprimorada de modelos de testes em animais para dar aos reguladores maior confiança na aprovação de vacinas. As atas de uma reunião do conselho de administração do IMI em 2018 revelam que a proposta não foi aceita, bem como o financiamento de projetos com a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations, uma fundação que procura combater doenças como Mers e Sars, ambas coronavírus.
O conselho de administração da IMI é composto por representantes da Federação Europeia das Indústrias Farmacêuticas (EFPIA), cujos membros incluem alguns dos maiores nomes do setor, entre eles GlaxoSmithKline, Novartis, Pfizer, Lilly e Johnson & Johnson. “Embora o escopo de um tópico regulatório proposto pela comissão não tenha sido apoiado pelas indústrias da EFPIA, o tema da modernização regulatória é considerado muito importante pelas indústrias e será discutido mais detalhadamente”, registra a ata.
Em resposta ao relatório, uma porta-voz do IMI disse que doenças infecciosas e vacinas eram uma prioridade desde o início. A iniciativa destacou um projeto de 20 milhões de euros conhecido como Zapi, lançado em 2015 após a pandemia de Ebola, e que se concentra na biopreparação. O IMI lançou ainda um financiamento para “inovações para acelerar o desenvolvimento e a fabricação de vacinas” em janeiro.
“O relatório parece sugerir que o IMI falhou em sua missão de proteger o cidadão europeu, deixando passar uma oportunidade de preparar a sociedade para a atual pandemia de Covid-19”, afirmou a porta-voz. “A pesquisa proposta pela comissão no tópico de biopreparação era de escopo pequeno e focada na revisão de modelos animais e no desenvolvimento de simulações para melhor definir/antecipar o tipo e o nível de resposta imune desencadeada em animais e humanos”.
O relatório do CEO alega que a influência direta das grandes empresas farmacêuticas na agenda de pesquisa do IMI a levou a ser dominada pelas prioridades da indústria e a afastar doenças relacionadas à pobreza e negligenciadas, incluindo os coronavírus.
Via: The Guardian