Cientistas do mundo todo correm contra o tempo para encontrar maneiras eficazes de combater a pandemia do novo coronavírus. Com o Brasil não seria diferente. Por aqui, além dos esforços em apontar fármacos e vacinas eficazes, a equipe do Sirius, superlaboratório de luz síncroton de 4ª geração, trabalha em uma maneira de coletar informações para maior entendimento sobre a doença.

Localizado no Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM) em Campinas (SP), o Sirius possui uma equipe de cientistas que trabalham incansavelmente para que duas linhas de pesquisa tenham suas montagens priorizadas para ajudar no combate ao vírus.

O supercomputador foi criado para analisar diferentes materiais em escalas de átomos e moléculas. Durante a primeira fase do projeto, estão previstas 13 linhas de luz, sendo que cada uma possui uma função e capacidade diferente.

Para a análise aprofundada do novo coronavírus, duas delas foram priorizadas: Cateretê e Manacá. A expectativa é que, com a dedicação dos profissionais, os feixes estejam prontos para funcionar ainda no primeiro semestre deste ano.

Feixes de luz

A Cateretê é uma linha de luz que aplica uma técnica chamada Espalhamento de Raios X. Com isso, ela é capaz de produzir imagens celulares consideradas únicas no mundo. Sua aplicação principal está ligada a possibilidade de enxergar todos os processos biológicos que ocorrem dentro de uma célula. No contexto do novo coronavírus, será possível mostrar como ele se comporta dentro da unidade estrutural.

A Manacá é dedicada às técnicas de Cristalografia de Proteínas por Raios X. Isso significa que é possível encontrar ou melhorar fármacos já existentes que sejam capazes de inibir a ação do vírus. Quando totalmente funcional, a linha pode ajudar no reposicionamento de moléculas de remédios já existentes a fim de encontrar uma substância eficaz contra a Covid-19.

Em entrevista ao G1, o pesquisador Mateus Borba Cardoso, Chefe da Divisão de Materiais Moles e Biológicos do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron) do CNPEM, diz que outras linhas estavam sendo montadas em paralelo, “como Mogno, Ema e Carnaúba”. No entanto, ele aponta que, “por razões óbvias, optamos por priorizar essas duas”.

Ainda segundo ele, a grande vantagem do Sirius é que o projeto é capaz de entender todo o processo causado pelo vírus dentro de uma célula humana – tudo isso usando apenas uma imagem. “Algumas linhas do mundo conseguem olhar apenas uma parte. Vamos ser a primeira do mundo capaz de colocar toda a célula no campo de visão, e podendo distinguir organelas, espaços intercelulares”, finaliza.

Trabalho incansável

Reprodução

Equipe trabalhando no Sirius. Foto: Cristiane Duarte/CNPEM

Mesmo com a pandemia, as equipes voltadas para fazer com que o Sirius funcione o mais breve possível fazem reuniões diárias para tratar dos avanços conquistados. Apesar da necessidade e do anseio por ajudar em um período tão difícil, os cientistas tomam diversas precauções sanitárias para que não haja nenhuma infecção enquanto trabalham no projeto.

Todos os profissionais são essenciais para fazer com que tudo esteja funcionando. No entanto, pessoas que estão nos grupos de risco, como indivíduos com mais de 60 anos e com comorbidades, estão trabalhando remotamente.

Ao todo, são seis equipes envolvidas na montagem das linhas. Três delas presenciais e três em regime home office. Dentro do campus, cada divisão fica a cargo de uma das equipes: uma é responsável pelo anel; outra por levar o feixe do anel para a amostra em análise; e, por fim, uma que faz com que o feixe saia da amostra e vá até os detetores, que são responsáveis por captar e fazer o processamento das informações.

Cardoso está bastante otimista com os resultados alcançados até então. De acordo com ele, o trabalho está em fase avançada e segue em sincronia. A projeção é que as equipes estão muito próximas do resultado pretendido. Em breve, poderemos ter um forte aliado no entendimento de como o vírus age no corpo humano e, consequentemente, no combate à doença.

Via: G1