Quase um terço dos pacientes hospitalizados com Covid-19 teve algum nível de comprometimento cerebral; é o que diz o maior estudo sobre os efeitos neurológicos da doença até o momento. Os resultados foram publicados no periódico Annals of Clinical and Translational Neurology.

A pesquisa acompanhou os primeiros 509 pacientes com coronavírus internados na rede de hospitais Northwestern Medicine, em Chicago, nos EUA. Destes, 31,8% desenvolveram, em algum momento da infecção, um grupo de desordens mentais chamado encefalopatia, que pode ocasionar perdas na capacidade de raciocínio, concentração e memória.

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Esses pacientes permaneceram três vezes mais tempo no hospital que os demais, e, depois da alta, somente 32% deles foram capazes de retornar às atividades de rotina. Entre os que não tiveram as funções mentais alteradas, a taxa de recuperação sem sequelas foi de 89%.

Mesmo depois de curados da Covid-19, os outros 68% que sofreram de encefalopatia durante a infecção continuaram apresentando sintomas neurológicos, como confusão, delírio, desorientação, estupor e falta de responsividade. 

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Um terço dos pacientes hospitalizados com Covid-19 acompanhados pelo estudo desenvolveu degeneração mental. Imagem: Kobkit Chamchod/Shutterstock 

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Consequência da inflamação

“A encefalopatia foi associada aos piores resultados de capacidade mental após a alta, e observamos também que ela está relacionada a uma taxa maior de mortalidade, independentemente da gravidade da doença respiratória”, afirmou o pesquisador Igor Koralnik, autor principal do estudo e chefe de infecções neurológicas no Northwestern Medicine.

Ele explica que é pouco provável que o vírus ataque diretamente as células cerebrais, e que os efeitos neurológicos são desencadeados por respostas inflamatórias do organismo, que também afetam outros órgãos além do cérebro.

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Já o médico Richard Temes, do grupo Northwell Health de Nova York, destacou que os sintomas mostrados pelo estudo não afetam a maioria das pessoas que contraem a doença, mas apenas os pacientes que desenvolvem quadros graves – e, ainda assim, cerca de um terço deles. 

“Este estudo evidencia que, quando se sobrevive à Covid-19, a recuperação é apenas o começo”, ele conclui, acrescentando que os pacientes acompanhados pela pesquisa podem ter consequências neurológicas duradouras. 

Via: USA Today