A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu prudência no uso de plasma convalescente para o tratamento da Covid-19. A entidade se manifestou depois que a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora da saúde pública nos Estados Unidos, aprovou a terapia em caráter emergencial no último domingo (23). 

De acordo com a OMS, o tratamento carece de evidências consistentes sobre sua segurança e efetividade. Esse posicionamento é semelhante ao da comunidade científica em geral, que já havia apontado incongruências nos estudos envolvendo o plasma convalescente.

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Possíveis riscos da terapia 

Os cientistas se queixam de que os estudos que indicaram a eficácia do tratamento não foram revisados e não incluíram grupos de controle, isto é, os resultados não foram comparados com os de pacientes que receberam o tratamento padrão.

Por isso, embora as conclusões tenham sido animadoras, ainda não são suficientes para recomendar o uso em larga escala da terapia com plasma. 

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“No momento, ainda são indícios muito baixos de qualidade”, disse Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, em entrevista coletiva. “Por isso, recomendamos que o plasma convalescente ainda seja visto como uma terapia experimental, e continue sendo avaliado em testes clínicos aleatórios bem concebidos.”

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Terapia utiliza o plasma de pacientes curados da Covid-19 para tratar infectados. Imagem: Iryna Kalamurza/Shutterstock

Até o último domingo, os pacientes norte-americanos só podiam ser tratados com plasma sob a condição de ensaios clínicos randomizados (ECR). Os tratamentos conduzidos sob ECR são posteriormente transformados em dados para avaliação científica.

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De agora em diante, os médicos podem usar o julgamento clínico para prescrever o plasma, sem que os pacientes estejam inscritos em ECR, o que não é recomendado pela OMS.

A preocupação é que o tratamento acarrete riscos à saúde dos pacientes, já que não foi comprovada ainda a sua segurança.

Segundo o conselheiro-sênior da OMS, Bruce Aylward, o uso de plasma pode resultar numa série de efeitos colaterais, como febres, lesões pulmonares e sobrecarga circulatória, nos casos mais graves. “Por esse motivo, os testes clínicos são extremamente importantes”, afirmou. 

Ferramenta política

O presidente Donald Trump, por outro lado, pensa diferente. Para ele, a hesitação dos cientistas em promover a terapia não passa de uma estratégia eleitoral dos democratas, já que, segundo ele, o sucesso do plasma poderia fortalecer a sua campanha de reeleição.  

“Estão dificultando os testes com vacinas e terapias na esperança de atrasá-los até o dia 3 de novembro [data da eleição]”, escreveu o presidente no Twitter. “Devemos focar na velocidade e em salvar vidas”.

Durante uma entrevista coletiva realizada no domingo, o chefe do Executivo disse que o tratamento apresentou “algumas respostas incríveis”, e que os Estados Unidos “não podem se atrasar”. Vale destacar que, anteriormente, Trump foi defensor da terapia com hidroxicloroquina, outra substância pouco recomendada pela comunidade científica. 

Via: Agência Brasil