Rover chinês decifra as camadas que compõem a Lua

Yutu-2 explora o fundo da cratera Von Kármán, no lado oculto da Lua. Dados revelam a existência de uma camada de regolito, solo solto cobrindo rocha sólida, muito mais espessa que o esperado
Rafael Rigues27/02/2020 12h50

20190816124245

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Um estudo publicado por uma equipe de pesquisadores chineses e italianos revela detalhes da composição do solo no lado oculto da Lua. Os dados foram coletados pelo rover chinês Yutu-2, que explora a cratera Von Kármán há pouco mais de um ano.

“É um ambiente com solo fino, arenoso, quase como poeira”, disse Elena Petinelli, professora de matemática e física da Universidade Roma Tre e uma das autoras do estudo. Os dados indicam a existência de uma camada de quase 40 metros de regolito, material solto e heterogêneo que inclui poeira, solo e rocha quebradas, cobrindo rocha sólida.

Baseado nos dados coletados durante as missões Apolo na década de 60, os cientistas esperavam encontrar um quarto desta quantidade de material. “É muito regolito. Dá o que pensar”, disse David A. Kring, cientista sênior do Instituto Lunar e Planetário em Houston, no Texas.

As ondas do radar de penetração no solo do Yutu-2 passaram pelos primeiros 12 metros do solo facilmente, indicando a presença de um material poroso e granular. Abaixo dele havia rochas, com tamanho variando entre 60 a 90 centímetros. Um terceiro nível do solo, abaixo das rochas, era composto por camadas alternadas de partículas finas e grossas, mas sem rochas.

O que os cientistas não encontraram, para sua surpresa, foi indicação de que as ondas de rádio foram refletidas por uma camada de basalto, rocha vulcânica sólida. Esse material deveria ter se acumulado no fundo da cratera após o impacto com o meteoro que a criou. Mas após milhões de anos, essa camada foi quebrada e soterrada por material arremessado por impactos subsequentes, o que indica que a cratera é antiga.

O radar do Yutu-2 emite ondas em duas frequências, uma alta, que foi analisada pela equipe da Dra. Petinelli, e outra curta, que foi descartada. “Não confiamos nestes dados”, disse a Dra., referindo-se à frequência mais curta.

Estudos realizados com dados do primeiro rover Yutu, que explorou a Lua por dois anos e meio a partir de dezembro de 2013, mostraram que as frequências curtas são sujeitas a distorções causadas pelo corpo metálico do próprio veículo, o que pode fazer com que os dados sejam interpretados de forma errada.

A próxima missão lunar chinesa, a Chang’e 5, será lançada neste ano, e tem como objetivo coletar amostras do solo lunar e trazê-las de volta à Terra.

Fonte: The New York Times

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital