A descoberta de fosfina, uma substância que na Terra é produzida pela atividade de bactérias anaeróbicas, na atmosfera de Vênus colocou o planeta entre os candidatos a abrigar vida alienígena. Nada foi confirmado ainda, mas parte da comunidade científica já se questiona se a vida venusiana (se existir) como poderia estar relacionada à vida terrestre?

Com base na taxa conhecida de impactos de meteoroides no nosso planeta, os pesquisadores Amir Siraj e Avi Loeb, da Universidade de Harvard (EUA) sugerem que micróbios terrestres que viviam na atmosfera podem ter pegado carona em um asteroide até o planeta vizinho. O estudo foi publicado na plataforma Arxiv.org e ainda vai passar pela revisão de pares acadêmicos.

“Pelo menos 600 mil asteroides passaram na atmosfera da Terra sem serem significativamente aquecidos e posteriormente impactaram Vênus, e um número semelhante passou na atmosfera de Vênus e posteriormente impactou a Terra – ambos dentro um período de aproximadamente 100 mil anos – durante o qual os micróbios poderiam sobreviver no espaço”, explicam os pesquisadores.

Não se sabe ao certo o quanto de vida há na alta atmosfera da Terra, mas Siraj e Loeb acreditam que esses “semeadores” de planetas poderiam ter sido potencialmente capazes de transferir vida microbiana entre o nosso planeta e Vênus. “Como resultado, a origem da possível vida venusiana pode ser fundamentalmente indistinguível daquela da vida terrestre”, afirmam no estudo.

Há uma chance de que reações químicas que nada têm a ver com a vida podem estar gerando essa a fosfina em Vênus. Mas também é possível que o gás esteja sendo expelido por micróbios que pairam nas nuvens de ácido sulfúrico do planeta. Ao mesmo tempo, muitas espécies de micróbios são incrivelmente resistentes, e facilmente sobreviveriam à essa jornada interplanetária, dizem os astrobiólogos.

Hipóteses semelhantes conectam a vida na Terra com rochas vindas de Marte – levando alguns pesquisadores a especular que seres unicelulares daqui possam ter vindo do Planeta Vermelho. E da mesma forma, até agora, nada foi comprovado.

Os responsáveis pelo novo estudo se inspiraram em episódio que ocorreu em julho de 2017. Um meteoro de 30 centímetros e 60 kg iluminou os céus da Austrália por 90 segundos e, em seguida, retomou sua jornada pelo espaço. Siraj e Loeb estimam que ele tenha coletado cerca de 10 mil colônias microbianas durante seu tempo no céu.

“O número total de objetos [potencialmente portadores de vida] capturados por sistemas exoplanetários ao longo da vida do Sistema Solar está entre dez milhões e um bilhão, com o número total de objetos com a possibilidade de micróbios vivos neles no momento de captura estimada em 10 a mil”, escreveram Siraj e Loeb em outro estudo, publicado em abril na revista Life.

Com a descoberta da fosfina em Vênus, a dupla voltou aos cálculos, mas dessa vez levando em conta só os meteoroides que viajaram entre a Terra e seu vizinho mais próximo. Ao longo dos últimos 3,7 bilhões de anos (período em que o cinturão de asteroides esteve estável), pelo menos 600 mil rochas que mergulharam na atmosfera superior da Terra provavelmente atingiram Vênus depois de passar menos de 100 mil anos no espaço. E outros 600 mil fizeram o caminho oposto.

Siraj e Loeb deixam claro que sua pesquisa não é definitiva. O objetivo do artigo é estimular uma investigação mais aprofundada dessa possibilidade. “É hora de começar a pensar um pouco mais cuidadosamente sobre o que esses canais podem realmente significar para a troca de vida, porque esses planetas estão tão próximos e muitas rochas podem ser trocadas”, disse Siraj ao Space.com.

Via: Space.com