Vênus é a ‘bola da vez” entre os astrônomos. Depois da descoberta de fosfina em sua atmosfera (um potencial biomarcador) e de ajudar na manobra da sonda BepiColombo da ESA, uma equipe de pesquisadores acredita ter encontrado o aminoácido glicina no nosso vizinho mais próximo.

Existem cerca de 500 aminoácidos registrados, mas apenas 20 deles estão presentes no código genético – a glicina é um deles. Sua descoberta não é um indicativo de vida em Vênus, mas coloca no planeta um dos blocos de construção das proteínas e outros compostos biológicos. O artigo que descreve o achado, publicado na plataforma Arxiv.org, ainda vai passar pela revisão de pares acadêmicos.

A equipe de pesquisadores, liderada pelo físico indiano Arijit Manna, do Midnapore College, usou dados do Atacama Large Millimeter / submillimeter Array (Alma) para detectar a molécula orgânica na atmosfera de Vênus por meio de espectroscopia nas latitudes médias do planeta, perto do seu equador – uma distribuição parecida com a da fosfina.

“Sua detecção pode ser uma das chaves para a compreensão dos mecanismos de formação de moléculas prebióticas. A atmosfera superior de Vênus pode estar passando quase pelo mesmo método biológico que Terra bilhões de anos atrás”, escreveram os cientistas no artigo.

ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), Greaves et al. & JCMT (East Asian Observatory)

Assinatura de fosfina na atmosfera de Vênus. Imagem: Alma (ESO/NAOJ/NRAO)/Greaves et al/JCMT/East Asian Observatory

Assim como aconteceu com o anúncio da detecção de fosfina, os pesquisadores preferem ser cautelosos em relação a descoberta, reforçando que o aminoácido é um ingrediente usado pela vida, mas não uma indicação de vida. “Deve-se notar que a detecção de glicina na atmosfera de Vênus é um indício da existência de vida, mas não uma evidência robusta”, completa o artigo.

Embora na Terra a glicina seja produzida por procedimentos biológicos, os pesquisadores afirmam que “é possível que em Vênus a glicina seja produzida por outros meios fotoquímicos ou geoquímicos”. Outros detalhes podem ainda descreditar o estudo. Por exemplo, o sinal espectroscópico da glicina é muito próximo ao do óxido de enxofre, então é possível que haja um erro na detecção da glicina.

Além disso, este aminoácido é o mais simples da sua família, e já foi encontrado em outros lugares, como cometas e meteoritos. Para aprofundar os estudos, os pesquisadores sugerem enviar mais sondas até Vênus. “Uma missão com amostragem direta da superfície e nuvens venusianas pode confirmar a fonte de glicina no planeta”, afirmam os autores.

Via: Universe Today