Novos satélites da SpaceX ainda atrapalham os astrônomos

Mudanças implementadas pela empresa nos satélites lançados recentemente reduziram seu brilho, mas nãoo bastante para impedir que interfiram na operação de observatórios de grande porte
Rafael Rigues11/09/2020 18h59

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Há muito os astrônomos reclamam que os satélites da constelação Starlink, da SpaceX, com seu brilho característico que os torna visíveis até mesmo a olho nu, são uma ameaça às observações feitas por instrumentos a partir da Terra. O brilho acontece por causa da posição dos painéis solares dos satélites enquanto eles estão em transição da órbita inicial, na qual são liberados no espaço, para uma órbita mais alta onde ficarão em operação.

Em abril deste ano Elon Musk prometeu mudanças para reduzir o problema. Entre elas um teste que cobriu as superfícies reflexivas de um dos satélites com uma pintura capaz de difundir a luz, o que lhe rendeu o apelido de “darksat”, e a instalação de uma espécie de “viseira” sobre os painéis solares de todos os satélites lançados desde meados de junho, evitando que a luz seja refletida para a Terra.

Em agosto a Fundação Nacional de Ciências dos EUA (NSF) e a Sociedade Astronômica Americana (AAS) lançaram um relatório investigando a situação. Ele é baseado em discussões entre mais de 250 especialistas durante um workshop virtual chamado SATCON1, e tem recomendações para os astrônomos e operadores de constelações de satélites para minimizar perturbações futuras.

Jeremy Tregloan-Reed, astrônomo da Universidade de Antofagasta, no Chile, conduziu um estudo para determinar a eficácia da camuflagem do darksat. Sua equipe o comparou com um satélite Starlink comum usando o telescópio de 0,6 metros do Observatório Ckoirama no Chile e constatou que o revestimento antirreflexivo o tornou invisível ao olho nu, mas ainda assim brilhante demais para impedir que interferisse na operação de observatórios de grande porte como o Vera C. Rubin, em construção no Chile, que será equipado com um telescópio com um espelho de 8,4 metros.

“Eu não considero os darksats como uma vitória, mas sim como um bom passo na direção certa”, disse ele. Já Jonathan McDowell, pesquisador do Centro de Astrofísica da Universidade de Harvard e da Smithsonian Institution, afirma que os resultados mostram que o darksat é um “beco sem saída”.

Ainda assim, segundo ele, a investigação conduzida por Tregloan-Reed é um passo importante: “este estudo é notável por ser um dos primeiros estudos observacionais significativos de um satélite Starlink, algo que a comunidade agora está se organizando para fazer em uma escala muito maior”, afirmou. Segundo McDowell, se satélites continuarem sendo lançados sem uma correção para o problema, “o impacto será imenso”.

A SpaceX planeja usar múltiplas “camadas” de satélites ao redor do planeta para oferecer acesso rápido à internet em qualquer lugar do mundo, com 1.584 satélites por camada, número que no total pode chegar a mais de 40 mil espaçonaves. No momento, apenas 700 deles estão em órbita.

Já a Amazon pretende colocar em órbita 3.326 satélites no projeto Kuiper, uma iniciativa semelhante à Starlink. Este projeto também está sob crítica dos astrônomos.

Fonte: Scientific American. Imagem de abertura: CTIO/NOIRLab/NSF/AURA/DECam DELVE Survey

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital