Alguns astrônomos acreditam que Júpiter, em vez de proteger à Terra de cometas e asteroides perigosos, lança ativamente objetos para dentro do Sistema Solar. Novas pesquisas demonstram esse processo complexo em ação.

Uma teoria popular sugere que o planeta gasoso, com sua enorme massa, age como um gigante escudo espacial, sugando ou desviando detritos perigosos que sobram da formação do Sistema Solar. Até faz sentido, mas a Teoria do Escudo de Júpiter, como é conhecida, tem caído em desuso recentemente.

Um dos principais críticos dessa teoria, Kavin Grazier, que fazia parte da Academia Militar Americana, de West Point, e da Nasa, tem procurado desmascarar essa ideia durante anos, e publicou diversos estudos sobre o assunto.

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De fato, Grazier tem demonstrado como Júpiter é uma ameaça perigosa, mesmo que indiretamente, ao invés de ser nosso protetor. Sua última investida no assunto envolve dois artigos complementares, um publicado no Astronomical Journal, em 2018, e o outro no Monthly Notices of the Royal Astronomical Journal, no ano passado.

O primeiro analisa as formas complexas como os objetos do Sistema Solar externo são afetados pelos planetas Jovianos, que são especificamente Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Já o segundo artigo analisa uma família específica de corpos celestes congelados e como eles são transformados, por Júpiter, em cometas potencialmente mortais.

Essa característica de “catapulta de asteroides” de Júpiter foi muito boa quando à Terra era jovem, pois cometas e asteroides traziam os ingredientes essenciais para a vida. Hoje, porém, esses impactos seriam negativos, pelo potencial de desencadear extinções em massa semelhantes àquela que extinguiu os dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos.

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Os trabalhos de Grazier apresentam novos modelos que demonstram os complexos processos astrofísicos necessários para converter corpos celestes distantes em ameaças locais. Os estudos mostraram como objetos no disco disperso, um anel dentro do Cinturão de Kuiper, que contém muitos planetesimais que se aproximam de Netuno, são influenciados pelos planetas Jovianos.

Eles também mostram como os Centauros, um grupo de corpos congelados em órbita, além de Júpiter e Netuno, são transformados, pelo primeiro planeta, em cometas potencialmente ameaçadores para à Terra, especificamente um conjunto de objetos conhecidos como Cometas da Família de Júpiter (JFCs). 

Os pesquisadores usaram uma ferramenta do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa que permitiu simular as posições dos planetas Jovianos em qualquer momento. Os espaços entre esses planetas eram então “semeados” com partículas (corpos celestes congelados) colocadas em órbitas aleatórias.

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O modelo previu as posições, tanto dos planetas, como das partículas, ao longo das suas órbitas durante longos períodos. A simulação poderia produzir resultados em intervalos regulares, mas também quando ocorresse um evento interessante que influenciasse fortemente a trajetória de uma partícula.

A simulação afirmava uma hipótese antiga de que os Centauros são alimentados pelo disco disperso e que os planetas Jovianos desempenham um papel nesse processo. O modelo também mostrou como nascem os JFCs.

Quanto a atuação de Júpiter, ou até mesmo Saturno, como um escudo, Grazier afirmou que isso ainda pode acontecer, mas que os gigantes gasosos protegem à Terra, principalmente, de objetos presos entre eles, e não de objetos encontrados no Sistema Solar externo.

A Nasa considera fazer missões para estudar os Centauros de Júpiter de perto, usando duas espaçonaves chamadas Centaurus e Chimera. Essas missões, se aprovadas, poderiam dizer mais sobre a origem do Sistema Solar, mas, principalmente, falar sobre as maneiras que esses objetos representam um risco à Terra.

Via: Gizmodo