Quantas pessoas são necessárias para se colonizar Marte? De acordo com um estudo publicado na Nature: Scientific Reports, 110 seria o número mínimo. O autor da pesquisa, o professor do Bordeaux Institut National Polytechnique, Jean-Marc Salotti, afirma que o cálculo leva em consideração questões como o uso de recursos no local e diferentes organizações sociais.

“[O estudo] baseia-se na comparação entre os requisitos de tempo para implementar todos os tipos de atividades humanas para sobrevivência a longo prazo e o tempo disponível dos colonos”, afirma Salotti. Um parâmetro importante é o chamado “fator de compartilhamento”, que permite alguma redução dos requisitos de tempo por indivíduo – por exemplo, se a construção de um objeto pode ser compartilhada por várias pessoas.  

Para o pesquisador, o ponto de partida do assentamento é fundamental para o restante do trabalho de colonização. Se houver uma grande quantidade de recursos e ferramentas tecnológicas no começo, isso afetará o restante dos cálculos. Da mesma forma, as despesas e a viabilidade das viagens interplanetárias são um fator determinante, bem como a vida útil do equipamento com o qual os colonos começam. 

X-Arc/Nasa

Projeto da X-Arc que foi um dos finalistas da competição promovida pela Nasa para habitats impressos em 3D. Imagem: X-Arc/Nasa

Os planos da SpaceX para Marte incluem uma espaçonave interplanetária com capacidade para 100 pessoas a Marte. O CEO da empresa, Elon Musk, acredita que essa comunidade seria abastecida por um fluxo constante de recursos pela sua frota de foguetes. Mas para Salotti, “esta é uma estimativa otimista da capacidade” da empresa, e que a viabilidade da reutilização permanece incerta, e a reutilização do foguete “pode ser muito difícil e levar várias décadas”.

Para melhorar as chances dos colonos, muitos pesquisadores consideram a utilização de recursos marcianos, como gases extraídos da atmosfera e minerais do solo. Marte pode prover compostos orgânicos, ferro e até vidro. Mesmo assim, Salotti considera que “a complexidade da implementação [desses recursos] é pouco compreendida e o número de itens que ainda serão enviados a cada ano ainda representaria um tremendo desafio”.

Salotti trabalhou em um modelo matemático que ele acha que poderia servir como um bom ponto de partida para pensar em uma colônia autossustentável. Para a empreitada funcionar, a disponibilidade de recursos locais, com água, oxigênio e elementos químicos, devem ser fáceis de explorar. A capacidade de produção, como ferramentas, também é uma variável ​​nessa equação.

Aí entra o tal “fator de compartilhamento”. Assim como o personagem Mark Watney do livro “Perdido em Marte” (vivido por Matt Damon na adaptação para o cinema), um colono marciano isolado teria que executar todas as tarefas de produção e manutenção de água, oxigênio e energia sozinho. Mas em uma colônia maior, da mesma forma que os recursos são utilizados por mais pessoas, a responsabilidade por mantê-los também pode ser compartilhada.

E à medida que o número de pessoas aumenta, há espaço para mais especializações. Nem todo mundo precisa saber tomar conta da água, ou só um grupo se reveza na manutenção dos sistemas de energia. “Um número maior de indivíduos torna possível implementar outras indústrias, permitindo o uso de ferramentas mais eficientes”, escreve Salotti. 

NASA/Pat Rawlings, SAIC

Arte conceitual da Nasa de missão em Marte. Imagem: NASA/Pat Rawlings, SAIC

O pesquisador descreve cinco “domínios de sobrevivência” que precisam ser considerados nos cálculos para a colonização: gestão de ecossistemas, produção de energia, indústria, edifícios e fatores humanos/atividades sociais. Este último se refere a algo com o qual as pessoas têm contado mundo durante o isolamento causado pela pandemia de Covid-19, como educação, atividades culturais, esportes, jogos, música etc.

A proposta do pesquisador parte do princípio de que, se o fluxo de suprimentos da Terra for interrompido, a colônia deve se sustentar. Basicamente, a equação de Salotti se resume ao tempo necessário para a sobrevivência versus o tempo disponível. Para Salotti, o número efetivo de pessoas necessárias para equilibrar essa equação, no caso de Marte, é de 110.

“A conclusão se baseia na comparação entre o tempo de trabalho necessário para atender a todas as necessidades de sobrevivência e a capacidade de tempo de trabalho dos indivíduos. Esta é obviamente uma estimativa aproximada, com inúmeras suposições e incertezas. Nosso método permite comparações simples, abrindo o debate para a melhor estratégia de sobrevivência”, completa.

Via: Universe Today