Cientistas detectam fenômeno desconhecido durante eclipse solar em Marte

Sismógrafo a bordo da espaçonave InSight registrou uma inclinação do solo marciano sempre que a lua Phobos passa em frente ao Sol
Rafael Rigues08/09/2020 14h31

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Pesquisadores do Instituto de Geofísica da Universidade Técnica de Zurique (ETH Zurich), na Suíça, identificaram um estranho fenômeno que ocorre em Marte durante eclipses solares: uma inclinação inesperada do solo.

Marte tem duas luas: Phobos, com cerca de 11 km de diâmetro, e Deimos, com cerca de 6 km. Como está a uma distância de apenas 6.000 km da superfície marciana, Phobos completa uma órbita a cada 7 horas e 39 minutos, ou três vezes durante um dia (Sol) marciano, que tem 24 horas e 37 minutos.

Phobos produz um eclipse parcial ou anular do Sol na maioria dos dias, embora o trânsito, ou seja, a passagem da lua em frente ao Sol, nunca dure mais de 30 segundos. A equipe da ETH Zurich estava analisando dados da sonda InSight, que pousou em Marte em novembro de 2018, para saber se alguns dos fenômenos que ocorrem na Terra durante um eclipse se repetem no planeta.

“Quando um eclipse solar ocorre na Terra, instrumentos podem detectar uma queda na temperatura e rápidas rajadas de vento, já que a atmosfera esfria em um local e o ar se desloca de lá em direção a locais mais quentes”, diz o sismólogo Simon Stähler, da ETH Zurich.

Os sensores da InSight não detectaram este fenômeno em Marte durante um eclipse. Mas o sismógrafo da sonda detectou algo estranho: uma minúscula inclinação do solo marciano sempre que Phobos passava em frente ao Sol.

“Minúscula” não é uma figura de linguagem. “Imagine uma moeda de 5 francos suíços. Coloque dois átomos de prata debaixo de um dos lados dela. Esta é a inclinação da qual estamos falando, da ordem de 10^-8 graus”, disse Stähler.

A equipe especulou que a inclinação poderia ser uma resposta sísmica à atração gravitacional exercida por Phobos sobre Marte. Mas ao comparar o sinal a outras leituras de atividade sísmica os cientistas não encontraram nenhuma semelhança com eventos anteriores.

Foi outro instrumento, um radiômetro infravermelho, que forneceu a pista para explicar o fenômeno: ele registrou uma pequena queda na temperatura na superfície durante o trânsito mais longo de Phobos, seguido por um período de cerca de um minuto e meio no qual o solo se aquece de volta à temperatura que tinha antes do trânsito.

A equipe acredita que esta é a causa da inclinação: “Durante um eclipse o solo esfria”, disse o sismólogo Martin van Driel, da ETH Zurich. “Ele se deforma de modo desigual, o que inclina o instrumento”.

Um efeito similar foi registrado em 1997 no Observatório da Floresta Negra, na Alemanha, quando um estudante se esqueceu de apagar uma lâmpada ao deixar a sala do sismógrafo. O calor gerado por ela causou expansão da base de granito sobre a qual o instrumento foi instalado, gerando “ruído” elevado nas medições. A equipe da ETH Zurich repetiu uma versão deste experimento, e obteve resultados semelhantes ao registrado pela InSight.

A descoberta pode nos ajudar a entender melhor a relação entre Phobos e Marte, e a prever o que acontecerá com a lua no futuro. Sua órbita decai 1,8 cm a cada ano, e a velocidade diminui. Os cientistas imaginam que eventualmente ela estará tão próxima de Marte que irá colidir com o planeta, ou então será destruída por forças de maré, gerando um anel de detritos ao redor do planeta.

Fonte: Science Alert

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital