Dois estudos independentes foram publicados na Nature Astronomy tratando das características do cometa interestelar 2I/Borisov, descoberto em agosto do ano passado. Em comum, a constatação de que o corpo, que veio de fora do nosso Sistema Solar, é bem diferente em sua composição do estamos acostumados a ver por aqui.

“É a primeira vez que olhamos dentro de um cometa de fora do nosso Sistema Solar“, afirmou o astroquímico Martin Cordiner, autor de um dos estudos, “e é dramaticamente diferente da maioria dos outros cometas que já vimos antes”. Em um dos levantamentos, os pesquisadores encontraram nos gases do 2I/Borisov uma quantidade muito maior de monóxido de carbono (CO) do que nos cometas formados na nossa vizinhança, o que indica que ele tinha grandes concentrações dessa substância em forma de gelo.

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A concentração de CO no 2I/Borisov foi estimada entre nove e 26 vezes maior que a do cometa médio do Sistema Solar. Isto sugere que o cometa se formou de maneira diferente dos cometas que os pesquisadores estão habituados a pesquisar, em uma região externa muito fria de seu sistema estelar natal ou em torno de uma estrela mais fria que o Sol.

Estudar corpos interestelares, ainda mais cometas, é muito enriquecedor para os astrônomos, já que esses objetos passam a maior parte do tempo a grandes distâncias de qualquer estrela, em ambientes muito frios. E diferente do que acontece com planetas, a composição dos cometas não muda significativamente a partir do momento que são inicialmente formados. Portanto, eles podem revelar muito sobre os processos que ocorreram durante o nascimento em discos protoplanetários.

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“Gostamos de nos referir ao 2I/Borisov como um boneco de neve de um lugar escuro e frio”, brinca Dennis Bodewits, da Universidade de Auburn, principal autor do outro estudo que também mediu os níveis de monóxido de carbono no cometa interestelar. “Pela primeira vez, fomos capazes de medir a composição química de um bloco de construção de outro sistema planetário enquanto ele voava através de nosso próprio sistema solar”, acrescentou Bodewits.

O 2I/Borisov foi o segundo objeto interestelar a ser detectado – depois do Oumuamua, descoberto em dezembro de 2017 – tem quase um quilômetro de diâmetro e pode ter se formado em um disco de gás e poeira que orbitava uma estrela recém-formada em um lugar rico em monóxido de carbono. “Essa estrela pode ter sido o que é chamado de anã vermelha M, muito menor e mais fria que o Sol, o menor tipo de estrela conhecido”, explica Bodewits.

Viajando a 33 km/s pelo nosso Sistema Solar, os astrônomos suspeitam que o 2I/Borisov foi ejetado de seu sistema planetário depois de interagir com uma estrela ou planeta gigante. Depois, passou milhões ou bilhões de anos em uma viagem fria e solitária pelo espaço interestelar antes de ser descoberto pelo astrônomo amador Gennady Borisov.

“2I/Borisov nos deu uma primeira visão da química que moldou um outro sistema planetário”, avalia a astrônoma Stefanie Milam, do Goddard Space Flight Center, da Nasa. “Mas somente quando pudermos compará-lo com outros cometas interestelares, descobriremos se ele é um caso especial ou se todo objeto interestelar tem níveis incomumente altos de CO”, completa.

Via: Reuters/NRAO