Molécula rara foi detectada em Satélite de Saturno

Partícula baseada em carbono nunca foi encontrada em nenhuma outra atmosfera, pois só poderia ficar estável em meio ao vazio do espaço interstelar
Redação28/10/2020 21h19, atualizada em 29/10/2020 00h25

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Uma pesquisa publicada no The Astronomical Journal revelou que astrônomos detectaram ciclopropenilideno (C3H2) na atmosfera de Titã, satélite de Saturno. A molécula é extremamente rara e baseada em carbono, além de ser tão reativa que só pode existir na Terra se for produzida em laboratório.

Na verdade, a partícula nunca foi detectada em uma atmosfera, no Sistema Solar ou em outro lugar. Até então, os cientistas achavam que o único outro lugar que permaneceria estável é o vazio frio do espaço interestelar. Mas a atmosfera da lua de Saturno pode ser um ambiente ideal para moléculas orgânicas mais complexas.

“Pensamos em Titã como um laboratório da vida real onde podemos ver química semelhante à da Terra antiga quando a vida estava tomando conta daqui”, disse a astrobióloga Melissa Trainer, do Goddard Space Flight Center da Nasa, uma dos cientistas-chefes que investigarão a Lua na próxima missão Dragonfly, que será lançada em 2027.

Segundo Trainer, moléculas maiores do que a C3H2 ainda serão encontradas, mas ainda é necessário saber o que está acontecendo na atmosfera para entender as reações químicas que levam moléculas orgânicas complexas a se formarem e chegarem até a superfície.

Molécula pequena e estranha

O ciclopropenilideno – que até os pesquisadores da Nasa descrevem como uma pequena molécula muito estranha – não tende a durar muito tempo em condições atmosféricas, pois reage rapidamente e facilmente com outras moléculas, formando outros compostos. O espaço interestelar é muito frio e difuso, o que significa que os compostos não estão interagindo muito e a C3H2 pode ficar inteira.

Nasa/Reprodução

Provavelmente, a pouca atmosfera de Titã contribuiu para a molécula sobreviver. Imagem: Nasa/Reprodução

Titã é muito diferente do espaço interestelar, já que tem lagos e nuvens de hidrocarbonetos, além de uma atmosfera predominantemente de nitrogênio com um pouco de metano. A atmosfera é quatro vezes mais espessa que a terrestre (que também é dominada pelo nitrogênio). Sob a superfície, os cientistas acham que há um enorme oceano de água salgada.

Titã é um tesouro de novas moléculas

Em 2016, uma equipe liderada pelo cientista planetário Conor Nixon, do Goddard Space Flight Centre da Nasa, usou o rádio observatório ALMA (Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array), no Chile para sondar a atmosfera lunar de Titã, procurando moléculas orgânicas.

A partícula foi encontrada na tênue atmosfera superior, acima da superfície, onde detectaram sua assinatura química desconhecida. Ao compará-la com um banco de dados de perfis químicos, a equipe identificou a molécula como a C3H2. É provável que a pouca atmosfera nessa altitude contribua para a sobrevivência da molécula, mas o motivo dela aparecer em Titã e nenhum outro mundo é um mistério.

“Quando percebi que olhava para o ciclopropenilideno, achei realmente inesperado. Titã é um satélite único em nosso Sistema Solar e provou ser um tesouro de novas moléculas”, disse Nixon.

O ciclopropenilideno é de particular interesse, por ser conhecido como uma molécula de anel (seus três átomos de carbono estão ligados em um anel). Embora a molécula em si não seja conhecida por desempenhar um papel biológico, as bases nitrogenadas de DNA e RNA são baseadas em tais anéis moleculares.

Cientistas querem descobrir se há vida em Titã

Quanto menor a molécula, mais potencial ela tem, pois reações envolvendo partículas menores com menos ligações devem acontecer mais rápido do que reações com moléculas maiores e mais complicadas. Isso significa que, quando isso acontece com partículas menores, surge uma gama mais diversificada de resultados.

Nasa/Reprodução

Pesquisadores esperam encontrar condições para a vida nos oceanos de Titã. Imagem: Nasa/Reprodução

Anteriormente, pensava-se que o benzeno (C6H6) era a menor molécula de anel de hidrocarbonetos encontrada em qualquer atmosfera (incluindo a de Titã).

Titã já é uma colmeia de atividade química orgânica, pois o nitrogênio e o metano se rompem à luz solar, desencadeando uma cascata de reações químicas. Se essas reações podem resultar em algum tipo de vida é uma suposição que os cientistas estão morrendo de vontade de responder.

“Estamos tentando descobrir se Titã é habitável, saber quais compostos da atmosfera chegam à superfície e, em seguida, descobrir se esse material pode passar pela crosta de gelo até o oceano, porque achamos que é onde estão as condições habitáveis”, comentou a geóloga Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

Descobrir quais compostos estão presentes na atmosfera é um passo muito importante nesse processo de pesquisa. O ciclopropenilideno pode ser pequena e estranha, mas esta molécula extremamente rara pode ser uma peça-chave do quebra-cabeça químico de Titã. Agora os cientistas só precisam descobrir como ele se encaixa.

Fonte: Science Alert

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital