Júpiter é tão imenso que possui duas vezes a massa de todos os outros planetas combinados. Esse tamanho todo fez com que ele formasse uma espécie de barreira no disco protoplanetário do Sistema Solar, tornando o material que forma os corpos celestes mais próximos ao Sol diferente dos que ficam mais distantes.

Porém, um estudo publicado na Proceedings of National Academy of Sciences defende que mesmo com o gigante gasoso “varrendo” disco de poeira e gás, parte do material dos dois lados conseguiu se combinar. A descoberta pode ajudar não só na compreensão de como nosso sistema se formou, mas também como os planetas se formam em torno de outras estrelas.

Há um consenso de que planetas nascem a partir da de poeira e gás no disco que gira em torno de uma estrela jovem. A evidência da composição desse disco protoplanetário em nosso próprio Sistema Solar vem dos condritos: um tipo de meteorito feito de partículas menores, ou côndrulos, feitos de poeira cósmica. “Se entendermos o transporte de material pelo disco, podemos entender as suas propriedades e inferir como os planetas foram construídos”, explica o professor de ciências terrestres e planetárias da Universidade da Califórnia Qing-zhu Yin, coautor do artigo. 

Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Goddard Space Flight Center

Júpiter e sua lua vulcânica Io, conforme vistas no sobrevoo da espaçonave New Horizons no início de 2007. Imagem: Nasa/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Goddard Space Flight Center

Meteoritos se dividem em dois grandes grupos, dependendo da composição. Condritos carbonáceos se originam no Sistema Solar externo, enquanto os não carbonáceos formaram-se a partir do disco próximo ao Sol – onde compostos à base de carbono e outros elementos voláteis foram queimados.

A explicação para essa diferença é que, conforme Júpiter se formou, o planeta abriu uma lacuna no disco protoplanetário, “criando uma barreira para o movimento da poeira”, afirma Yin. O mesmo fenômeno já foi observado por astrônomos em outras estrelas a partir de dados do radiotelescópio ALMA, no Chile.  

Mas estudos feitos em um tipo raro de meteorito mostram que o material próximo ao Sol chegou ao Sistema Solar externo mesmo com essa barreira. A equipe de Yin fez uma análise detalhada de isótopos de 30 meteoritos dos dois grupos distintos e encontraram nos côndrulos individuais de dois exemplares elementos do Sistema Solar interno e externo. 

Wikimedia Commons

Uma fatia do meteorito Allende, que caiu no México em 1969 e foi uma das amostras analisadas no estudo. Com 4,5 bilhões de anos, esta rocha foi formada junto com o Sistema Solar. Imagem: Wikimedia Commons

Existem algumas explicações possíveis. “Uma é que ainda havia movimento ao longo do plano intermediário do disco, embora devesse ter sido interrompido por Júpiter”, acredita Curtis Williams, coautor do estudo. “A outra é que os ventos no Sistema Solar interno podem ter levado as partículas através da lacuna de Júpiter”, completa.

O novo estudo ajuda a conectar “cosmoquímica, ciências planetárias e astronomia para dar uma imagem completa da formação dos planetas”, avalia Yin.

Via: UC Davis