Hubble olha para o passado, mas não encontra as primeiras estrelas

Estrelas da População III deveriam ter se formado quando o universo ainda era um bebê, com idade entre 500 milhões e 1 bilhão de anos, e ser compostas de elementos leves como hidrogênio, hélio e lítio
Rafael Rigues08/06/2020 13h13, atualizada em 08/06/2020 13h15

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Um estudo realizado por pesquisadores da Agência Espacial Européia (ESA), usando o telescópio espacial Hubble, tentou “voltar no tempo” e encontrar evidências das primeiras estrelas do universo.

Estas estrelas, conhecidas como “População III”, teriam se formado entre 500 milhões e 1 bilhão de anos após o Big Bang, explosão que deu origem ao nosso universo e que, segundo estimativas, ocorreu há 13,8 bilhões de anos.

Os cientistas acreditam que estas estrelas eram compostas apenas de hidrogênio, hélio e lítio, os únicos elementos químicos disponíveis até então, antes que reações em seu interior pudessem produzir elementos mais pesados como nitrogênio, oxigênio, carbono e ferro.

Para entender como os cientistas podem olhar para o passado, basta lembrar que a luz emitida pelas estrelas leva um tempo para chegar até nós. A luz do Sol, por exemplo, demora 8 minutos. Distâncias interestelares são medidas em anos-luz, ou seja, a distância que é percorrida pela luz em um ano.

Reprodução

Nesta foto Alpha Centauri, a estrela mais próxima do sol, é a estrela mais brilhante à esquerda. À direita temos Beta Centauri. Fonte: Skatebiker / Wikimedia Commons.

Quando olhamos para uma estrela próxima, como Alpha Centauri, estamos vendo ela como era 4,37 anos atrás, já que ela fica a 4,37 anos-luz daqui. Portanto, quanto mais distante uma estrela, mais profundamente no passado estamos olhando. Com o Hubble, cientistas podem observar galáxias tão distantes que se formaram quando o universo ainda era um bebê, com apenas 500 milhões de anos.

A equipe liderada pela Dra. Rachana Bhatawdekar usou o telescópio e um fenômeno chamado de “lente gravitacional”, quando a atração gravitacional de uma galáxia distorce a luz vinda de outra galaxia atrás dela, ampliando a imagem como uma lente, para observar um aglomerado estelar conhecido como MACSJ0416.

Usando uma nova técnica de software que permite “cancelar” a luz das galáxias à frente, a equipe da Dra. Bhatawdekar conseguiu observar galáxias de 10 a 100 vezes mais fracas do que as já registradas antes. E os resultados não foram o esperado.

“Não encontramos evidências desta primeira geração de estrelas da População III neste intervalo de tempo cósmico”, disse a Dra. Bhatawdekar. “Estes resultados tem consequências profundas para a astrofísica, pois mostram que as galáxias devem ter se formado muito antes do que acreditamos”, disse.

Para poder observar um passado ainda mais distante, precisaremos de telescópios ainda mais poderosos do que o Hubble. Uma opção é o James Webb Space Telescope (JWST), que está sendo construído pela Nasa e deve ser lançado em março de 2021.

Fonte: Science Alert

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital