Estamos acostumados a olhar sempre para a mesma face da Lua. Como sua rotação é sincronizada com a da Terra pela atração gravitacional, o lado mais manchado é o único visível daqui – enquanto o outro lado, mais claro, só pode ser visto em imagens feitas por satélites e sondas. Mas a origem dessa assimetria ainda é um mistério.

Pesquisadores, porém, estão propondo uma possível nova explicação, apoiada em evidências experimentais que atribui essa diferença a uma distribuição desigual de elementos radioativos no nosso satélite natural.

A história da formação do sistema Terra-Lua ainda não foi totalmente desvendada. A teoria mais forte diz que os dois se formaram quando um corpo do tamanho de Marte, chamado Theia, colidiu com a proto-Terra, formando dois corpos: um maior e quente o suficiente para se tornar tectonicamente ativo, a Terra, e um menor, que esfriou mais rapidamente e “congelou” geologicamente, a Lua. Mas o estudo publicado na Nature Geoscience desafia essa ideia.

Dados coletados de décadas de observações demonstraram que a história lunar é muito mais dinâmica do que se pensava, com a atividade vulcânica e magnética ocorrendo há apenas um bilhão de anos atrás, muito menos tempo do que o esperado. As tais manchas no lado mais próximo a Terra, denominadas pelos astrônomos antigos como “mares” por acreditarem serem corpos de água, são na verdade uma vasta planície basáltica, fruto de erupções de material incandescente que se seguiram ao impacto de asteroides e meteoritos.

O outro lado, entretanto, quase não tinha manchas – apenas 1%, em comparação com os 31% da face mais próxima. As missões Apollo trouxeram 382 kg de rochas lunares para análise, e identificaram um tipo de assinatura característica, denominada Kreep: “K” designa o potássio, “P” corresponde ao fósforo, e “REE” é uma sigla do inglês para “rare-earth elements”, que cério, disprósio, érbio, európio e outros elementos raros na Terra.

Cientistas do Instituto de Ciências da Vida da Terra no Instituto de Tecnologia de Tóquio, Universidade da Flórida, Instituto de Ciências Carnegie, Universidade de Towson, Centro Espacial Johnson da Nasa e Universidade do Novo México usaram uma combinação de observação, experimentos de laboratório e modelagem computacional para tentar explicar essa diferença entre as faces da Lua. E tem a ver com o solo Kreep.

Potássio, tório e urânio são elementos radioativamente instáveis, que ocorrem em uma variedade de configurações atômicas e possuem números variáveis ​​de nêutrons. Esses átomos de composição variável são conhecidos como isótopos, alguns dos quais são instáveis ​​e decaem para produzir outros elementos. O calor do decaimento radioativo desses elementos pode ajudar a derreter as rochas em que estão contidos.

Como os pesquisadores explicam no artigo, a inclusão do componente Kreep nas rochas diminui a temperatura de fusão, formando a atividade vulcânica presente a até um bilhão de anos. Como a maioria desses fluxos de lava foi inserida no início da história lunar, este estudo também adiciona restrições sobre o momento da evolução da Lua e a ordem em que vários processos ocorreram.

“Devido à relativa falta de processos de erosão, a superfície da Lua registra eventos geológicos do início da história do Sistema Solar”, afirma Matthieu Laneuville, coautor do estudo. Os novos dados sugerem que a mancha enriquecida em Kreep influenciou a evolução lunar desde sua a formação. Os pesquisadores acreditam que quando Theia bateu na Terra, enviou detritos voando para o espaço, que se recombinaram para formar a Lua, mas não de forma homogênea.

“Em particular, as regiões do lado próximo têm concentrações de elementos radioativos como urânio e tório, diferentemente de qualquer outro lugar da Lua. Compreender a origem desses enriquecimentos locais de urânio e tório pode ajudar a explicar os estágios iniciais da formação da Lua e, como consequência, condições no início da Terra”, completa o cientista.

Via: Science Alert