Cientistas estudam local onde o tempo parece ter ‘desaparecido’

Formações rochosas que registram a 'história' do planeta possuem partes faltantes
Luiz Nogueira28/04/2020 12h27, atualizada em 28/04/2020 12h50

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Para nós, é comum esquecer alguns detalhes sobre situações do cotidiano. No entanto, ao que parece, não somos os únicos. Um estudo publicado recentemente pela revista científica Proceedings of National Academy of Sciences aponta que a Terra também passou por “problemas de memória”.

Essa afirmação pode parecer estranha, mas é fundamentada no fato de que a história do nosso planeta está registrada principalmente em camadas rochosas que se originam em diferentes períodos, empilhadas diretamente umas sobre as outras.

Entretanto, os cientistas do novo estudo afirmam que há lacunas no registro geológico do nosso planeta – fenômeno conhecido como “inconformidade”. Esses lapsos de memória são bastante interessantes porque sugerem um passado perdido, talvez repleto de ideias reveladoras sobre a evolução da Terra e das formas de vida presentes.

Rebecca Flowers, geóloga da Universidade do Colorado e principal autora do estudo, revela novas ideias sobre um fenômeno, que ocorre em rochas em todo o mundo, conhecido popularmente como “Grande Inconformidade”. Essa lacuna se estende a aproximadamente 550 milhões de anos atrás – um pouco antes do surgimento de vida complexa.

Tempo perdido

Cientistas de todo o mundo defendem a hipótese de que o período “faltante” foi excluído pela erosão ocorrida durante o período da Terra bola de neve, em que se acredita que o planeta esteva totalmente coberto de gelo – entre 715 e 640 milhões de anos atrás.

Reprodução

Para Flowers e seus colegas de estudo, a lacuna foi criada por “características tectônicas regionais, em vez de um fenômeno global síncrono”. A equipe chegou a essa conclusão examinando a inconformidade em um afloramento de granito em Pikes Peak, no Colorado, embora esse não seja o único local que contenha segredos ocultos sobre esse passado excluído.

A geóloga declarou que não pretende limitar suas descobertas apenas a um local. Em entrevista à Vice, ela informa que trabalha ativamente em locais da América do Norte, incluindo o Grand Canyon, onde a Grande Inconformidade é bastante famosa. A ideia é que o estudo seja levado para outros continentes.

“O objetivo deste trabalho é determinar se houve um evento de erosão maciço e globalmente síncrono, com a ideia de uma Grande Inconformidade singular, ou existem vários desses fenômenos, que se desenvolveram em momentos diferentes, em vários lugares, com causas distintas”, disse Flowers.

Resultados

Para entender o que ocorreu em Pikes Peak, os cientistas analisaram amostras de minerais e cristais de rochas, como hematita e zircão, que puderam ser usados para reconstruir a história térmica das camadas de sedimentos.

Os resultados revelaram que as rochas mais antigas, localizadas na parte inferior, haviam erodido antes da Terra bola de neve e, “portanto, não podem ser um produto da erosão glacial”, segundo o estudo.

A pesquisa também lança dúvidas sobre a ideia de que a erosão associada à Grande Inconformidade possa ter semeado a Terra com nutrientes que provocaram a Explosão Cambriana – evento que marcou o surgimento de vida complexa no planeta.

“Se uma grande erosão ocorreu várias centenas de milhões de anos antes da Explosão Cambriana, pode ser que esses eventos (explosão e a erosão) não estejam ligados. Nossos resultados indicam que, no caso de Pikes Peak, a superfície erodiu centenas de milhões de anos antes da ideia Cambriana”, finaliza Flowers.

Via: Vice

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital