Brasileiros encontram estrela que completa um giro a cada 30 segundos

Estrela é uma anã branca que é parte do sistema binário CTCV J2056-3014, a 850 anos-luz de nós; antes desta descoberta, o período mais curto de rotação para uma estrela do tipo era de 33 segundos
Rafael Rigues14/08/2020 12h44, atualizada em 14/08/2020 15h00

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Uma equipe de pesquisadores, cinco deles brasileiros, descobriu uma estrela anã branca, um tipo de estrela altamente densa, do tamanho de nosso planeta, que completa um giro em torno de si a cada 30 segundos, estabelecendo um recorde entre todas as anãs brancas conhecidas.

Batizada de CTCV J2056-3014, a estrela foi encontrada graças a observações em raios-X realizadas pelo telescópio espacial XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), e na luz que é visível aos nossos olhos pelo telescópio Zeiss do Observatório do Pico dos Dias (OPD), no estado de Minas Gerais, gerenciado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCTI).

A descoberta foi feita por uma equipe composta por Raimundo Lopes de Oliveira Filho, da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Observatório Nacional (ON), Albert Bruch, do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), Claudia Vilega Rodrigues, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Alexandre Soares de Oliveira, da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) e Koji Mukai, da Nasa e University of Maryland Baltimore County (UMBC), nos EUA. O estudo foi publicado numa das revistas científicas mais importantes da Astrofísica, a The Astrophysical Journal Letters.

CTCV J2056-3014 é, na verdade, um sistema binário, localizado a 850 anos-luz de nós, composto por duas estrelas orbitando a uma distância entre si equivalente àquela entre a Terra e a Lua. O que chamou a atenção da equipe foi uma variação do brilho do sistema tanto em raios-X quanto na luz visível, que se repete a cada 29,6 segundos. Tal variação está associada ao tempo de giro da anã branca.

Antes desta descoberta, o período de rotação mais curto conhecido em uma anã branca era de 33 segundos. Existem poucas deste tipo conhecidas com período de rotação inferior a 100 segundos. O mais comum é a rotação durar de vários minutos a várias horas quando em sistemas binários, e alguns dias em estrelas “isoladas”.

“Investigar fenômenos astrofísicos extremos nos permite fazer avançar a física sob condições que são difíceis ou mesmo impossíveis de serem produzidas em nossos laboratórios. O estudo de CTCV J2056-3014 tem implicações científicas importantes sobre interação entre matéria e campos magnéticos, que é de grande interesse em Física, e que nesse sistema se dá com matéria caindo sobre uma estrela magnetizada e em rotação elevada”, afirma o pesquisador Raimundo Lopes de Oliveira Filho, professor da Universidade Federal de Sergipe e do Observatório Nacional, que liderou o estudo.

“O que foi observado em CTCV J2056-3014 abre horizontes para um melhor entendimento sobre estrutura e evolução estelar, e também sobre a origem de campos magnéticos em estrelas evoluídas”, ressalta.

“O estudo também é um belo exemplo de sinergia entre instrumentos de grande porte, como o satélite XMM-Newton, e telescópios pequenos, como o Zeiss do Observatório do Pico dos Dias, mostrando que equipamentos modestos tem o seu lugar na pesquisa mesmo na época de telescópios gigantes”, diz Albert Bruch, do Laboratório Nacional de Astrofísica.

Imagem: Ilustração de uma Anã Branca polar. Rodrigo Cassaro – Observatório Nacional 

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital