14 anos após sua descoberta, ‘rugido’ cósmico ainda intriga cientistas

Sinal seis vezes mais intenso que o esperado parece vir 'de todo lugar', e sua origem ou causa ainda não foram determinadas
Rafael Rigues06/08/2020 12h48

20200806095633

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Em 2006 um instrumento da NASA chamado Arcade (Absolute Radiometer for Cosmology, Astrophysics, and Diffuse Emission, Radiômetro Absoluto para Cosmologia, Astrofísica e Emissões Difusas), preso a um balão a 37 km de altura flutuando no meio da estratosfera, fez uma descoberta que intrigou os cientistas.

Criado para detectar ondas de rádio geradas pelo calor de estrelas distantes, o que ele encontrou foi um sinal onipresente, seis vezes mais intenso do que o esperado pelos cosmólogos. E até hoje, eles não sabem qual a causa. Devido à intensidade, o sinal foi apelidado de “space roar”, o “rugido espacial”.

Desde então, cientistas vem trabalhando para descrever as propriedades do sinal e tentar determinar sua origem. “É um sinal difuso vindo de todas as direções, então não é causado por um objeto único”, diz Al Kogut, que liderou a equipe do Arcade no Goddard Space Flight Center, da Nasa. “O sinal tem um espectro de frequências, ou ‘cor’, que é similar às emissões de rádio de nossa própria galáxia, a Via-Láctea”.

Cientistas chamam o sinal de “radiação síncrotron de fundo”. Síncrotron é um tipo de emissão gerada por partículas de alta energia com campos magnéticos. Mas como todas as fontes têm o mesmo espectro característico, determinar a origem do rugido é difícil.

“Há bons argumentos dizendo porque ele não pode estar vindo de dentro da Via-Láctea, e bons argumentos dizendo porque ele não pode estar vindo de fora da galáxia”, diz Kogut.

Uma possível razão para ele não estar vindo de nossa galáxia é que o rugido não parece seguir a distribuição espacial das emissões de rádio da Via-Láctea. Ninguém afirma com certeza de que o sinal não vem de uma fonte mais próxima de nós, mas os melhores palpites são de que ele vem de outro lugar.

“Eu não diria que os cientistas eliminaram a possibilidade da radiação síncrotron de fundo se originar em nossa galáxia”, diz Jack Singal, professor assistente de física na Universidade de Richmond, nos EUA, que recentemente organizou um workshop sobre o tema. “Entretanto, eu diria que essa explicação parece ser menos provável”.

“Fontes possíveis incluem mecanismos difusos em larga escala, como a fusão turbulenta de aglomerados galácticos, ou então uma categoria completamente nova e até agora desconhecida de numerosas fontes individuais de emissão de rádio em nosso universo”, diz Singal. “Mas tudo relacionado a isto é altamente especulativo no momento, e algumas sugestões que foram propostas incluem a aniquilação de matéria escura, supernovas da primeira geração de estrelas e muitas outras”.

Obviamente, também há a possibilidade de que tenha ocorrido uma coincidência de erros entre o Arcade e outras medidas feitas até então, que calcularam erroneamente o nível da radiação síncrotron de fundo”, diz Singal. “Mas isso parece improvável, dado que são instrumentos muito diferentes medindo faixas de frequência muito diferentes”.

Para que os cientistas possam resolver este mistério que se arrasta por quase 14 anos, mais pesquisa e evidências são necessárias. Há um debate sobre reenviar o Arcade à estratosfera devido ao surgimento de novas tecnologias. Mas também há novos projetos que podem ajudar.

“Um deles usará o rádiotelescópio de 91 metros em Green Bank, na Virgínia Oriental, EUA, para mapear as fontes de rádio no céu com maior precisão do que antes”, disse Kogut. “Talvez isto ajude a colocar alguma luz neste mistério”.

Fonte: Space.com. Imagem de abertura: NRAO / CC-BY-3.0

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital