O Brasil tem se mantido em um patamar de cerca de 1.000 mortes anunciadas diariamente por Covid-19. A situação é grave, sem sinais de que a tendência esteja perto de se reverter e, para piorar, o país precisa se preparar para lidar com mais um inimigo neste momento: o frio.

Nos últimos dias, as regiões Sul e Sudeste do Brasil lidam com frentes frias que serviram para lembrar a população de que o inverno está por vir a partir de junho. Historicamente, esse período do ano causa um aumento nos casos de doenças respiratórias; em 2020 não deve ser diferente.

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Existem dois motivos principais que causam o aumento de hospitalizações por problemas respiratórios durante esta época do ano. O primeiro deles é comportamental: a redução da temperatura faz com que as pessoas se agrupem em ambientes mais fechados, com troca de ar com o exterior reduzida. Se houver uma pessoa doente, ela tem mais facilidade para propagar entre aqueles que estiverem próximos.

O segundo motivo é ligado à forma como o corpo humano reage ao frio. Temperaturas mais baixas causam redução dos movimentos ciliares no pulmão, que servem para a remoção de impurezas, que podem incluir, por exemplo, vírus e bactérias. Sem essa movimentação, a infecção pulmonar é facilitada, tanto em casos virais quanto bacterianos, e o mesmo acontece com as alergias, como explica ao Olhar Digital Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Como fica a Covid-19 com o frio?

É um fato que o coronavírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19, não tem qualquer problema para se reproduzir e se disseminar no calor, como atestado pelas crises nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, os fatores citados acima indicam que o frio pode criar um cenário ainda mais complicado para as regiões mais geladas.

Uma das questões que agrava consideravelmente o quadro de pacientes com Covid-19 são as infecções associadas, causadas por outros organismos além do Sars-Cov-2, em especial bactérias, que se aproveitam da queda das defesas imunológicas. O aumento da incidência de outras doenças respiratórias pode ajudar a tornar mais crítica a situação dos pacientes, potencialmente causando mais óbitos, como pontua o infectologista.

Há mais um aspecto preocupante com o potencial aumento das doenças respiratórias de inverno. Com mais pessoas sendo internadas por doenças que não são a Covid-19, a tendência é que haja ainda mais pressão para ocupação de leitos hospitalares, tanto os de enfermaria quanto os de UTI, que já são raros em várias cidades e estados brasileiros.

A chegada do frio coincide justamente com o momento em que estados começam a discutir e planejar uma reabertura e relaxamento de medidas de isolamento, que tende a colocar mais pessoas para circular nas ruas. Otsuka aponta que, apesar da necessidade de se retomar a economia, do ponto de vista da saúde, o momento está longe do ideal para isso. “Em outros países, a situação seria digna de lockdown”, ele afirma.

Para evitar que o inverno agrave demais a crise do coronavírus, a solução continua sendo só uma por enquanto: manter o isolamento social sempre que possível, reforça o infectologista. “Não se trata de uma gripezinha. É uma infecção que pode ser e tem sido muito grave, que não atinge só idosos; há muitos jovens morrendo. É importante usar a máscara direito, lavar as mãos adequadamente e manter o distanciamento social mesmo nas ruas”, conclui.