Quando se fala nos números fatais da Covid-19, frequentemente são ouvidas comparações com os números de outras doenças, no intuito de minimizar sua letalidade. No entanto, conforme o vírus avança pelo Brasil, fica mais difícil negar o tamanho dos danos, mesmo quando se compara com outras causas de mortes.
Na terça-feira (19), o país registrou 1.127 mortes por Covid-19, no pior dia da pandemia até agora. O número já é alto por si só, mas é quando se olha para os danos causados por outras doenças que se observa a dimensão dos danos.
Segundo os dados mais recentes da plataforma DataSUS, o patamar de 1.000 óbitos registrados por dia fazem com que a Covid-19 supere a média diária de mortes de qualquer outra doença durante o ano de 2018, o último a ter seus dados abertamente expostos. Ainda não há estatísticas de 2019 ou 2020.
As cinco causas de morte mais comum em 2018, na ordem, foram:
- Doenças do aparelho circulatório: 357.770 mortes
- Neoplasias (câncer e tumores): 227.920 mortes
- Doenças do aparelho respiratório: 155.921 mortes
- Causas externas de morbidade e mortalidade: 150.814 mortes
- Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas: 81.365 mortes
Em números absolutos, a Covid-19 ainda está longe de matar tanto quanto essas causas, até porque os números são referentes a um ano inteiro, enquanto a primeira morte confirmada por coronavírus aconteceu há cerca de dois meses, na metade de março.
Quando se divide esses números por 365 para entender a média de mortes por dia é que se percebe o potencial letal do coronavírus e o que aconteceria se o ritmo de propagação se mantiver igual por muito tempo.
- Doenças do aparelho circulatório: 980 mortes/dia
- Neoplasias (câncer e tumores): 624 mortes/dia
- Doenças do aparelho respiratório: 427 mortes/dia
- Causas externas de morbidade e mortalidade: 413 mortes/dia
- Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas: 222 mortes/dia
Nesta quarta-feira (20), o número anunciado pelo Ministério da Saúde caiu para 888 óbitos por Covid-19, mas isso ainda colocaria a doença como a segunda mais comum seguindo a média diária.
Mas e o atraso?
É um fato que há um atraso muito grande no registro de óbitos por Covid-19. O Ministério da Saúde sempre atualiza os números diários batendo na tecla que uma minoria das mortes anunciadas é referente à data atual. De fato, a maioria das mortes anunciadas diariamente aconteceram em outros dias, mas acabam computadas com atraso.
No entanto, o que as tendências mostram é que, mesmo que as estatísticas diárias contem com muitas informações atrasadas, o número de mortes reais que acontecem em determinado dia é muito próximo do anunciado.
Um exemplo: em 15 de abril, o ministério anunciou 204 mortes por Covid-19, sendo apenas 10 delas realmente confirmadas na data. Agora, mais de um mês depois, o portal de transparência do Registro Civil demonstra que há 230 certidões de óbito relacionadas à doença com data de morte no dia 15 de abril. Ou seja: os óbitos de datas passadas seguem aumentando por muito tempo.
Pelo Registro Civil, o dia com mais registros de óbitos por Covid-19 até o momento é 9 de maio, com 695 confirmações até o momento. Naquele dia, o ministério havia anunciado 730 mortes pela doença, novamente batendo na tecla que a maioria havia acontecido em outras datas.
Pelos dados do Registro Civil, então, no dia com mais mortes confirmadas por Covid-19 até o momento (695), a doença esteve abaixo apenas da média diária de óbitos por problemas no aparelho circulatório em 2018, superando a soma de todos os tipos de câncer.