Promotores dos Estados Unidos concluíram que a Uber não será responsabilizada criminalmente pelo acidente com seu carro autônomo, que atropelou e matou em março de 2018 a pedestre Elaine Herzberg, 49 anos, na cidade de Tempe, no estado do Arizona. A informação foi divulgada na última terça-feira (05/3) pela Procuradoria da Comarca de Yavapai, no Arizona. As autoridades examinaram o caso a pedido do condado de Maricopa, onde ocorreu o acidente, mas não explicou o que a fez chegar a essa conclusão.
Segundo comunicado do promotor de Yavapai, “não há base para responsabilidade criminal” da Uber. Porém, a motorista de apoio do carro, Rafaela Vasquez, ainda deve ser investigada pela polícia de Tempe. Vasquez pode ser acusada de homicídio por acidente de trânsito, de acordo com relatório divulgado pelas autoridades locais, divulgado em junho.
A decisão pode ser motivada por possível distração da motorista, o que deixa a dúvida se ela poderia ter tomado ações para evitar o acidente. A hipótese surgiu com base em um vídeo de dentro do carro, que mostra Vasquez desviando a atenção da estrada e olhando para baixo momentos antes do ocorrido. Depois, a polícia de Tempe teve acesso, no ano passado, a registros do serviço de streaming Hulu os quais mostram que Vasquez estava assistindo um episódio do programa de TV “The Voice” em um smartphone até pouco antes do atropelamento. Um relatório preliminar da National Transportation Safety Board – organização independente que investiga acidentes de trânsito nos EUA –, concluiu que Vasquez tentou desviar a rota manualmente, mas menos de um segundo antes do impacto.
A Promotoria de Yavapai devolveu o caso ao condado de Maricopa para mais análises focadas no vídeo, para determinar o que a motorista pode ter visto nos segundos antes do acidente e se deveria ter tomado alguma atitude. Para a polícia, o incidente foi “inteiramente evitável”. O National Transportation Safety Board e a National Highway Traffic Safety Administration ainda estão investigando o caso. O atropelamento foi com o veículo utilitário esportivo Volvo XC90 Uber usado pela Uber para testes da tecnologia autônoma.
A decisão dos promotores é um ponto positivo para a empresa. Mesmo assim, a companhia de transporte por aplicativo ainda não se recuperou das consequências do acidente. No mês da ocorrência, as autoridades do Arizona suspenderam a autorização da Uber de testar seus veículos autônomos. Além disso, ela mesma suspendeu voluntariamente todo o seu programa de testes da tecnologia no estado. A Uber também não voltou a testar seus carros em São Francisco ou Toronto, onde também tinha programas ativos. O acidente foi um golpe para toda a indústria de veículos autônomos, porque levou outras empresas a interromperem temporariamente seus testes.
Em dezembro, a Uber retomou, de forma limitada,testes de carros autônomos em Pittsburgh, na Pensilvânia. No entanto, os experimentos estão restritos a um pequeno circuito e são executados apenas em climas favoráveis. Mesmo assim, desde então, seus testes de veículos autônomos permanecem dramaticamente reduzidos. A empresa vem apostando na transição para essa tecnologia para eliminar a necessidade de pagar motoristas.
No ano passado, a Uber registrou prejuízos de cerca de US$ 3,3 bilhões. Os números são importantes porque ela está se preparando para a abertura de capital e já abriu, confidencialmente (mas que já vazou), em dezembro, um processo de oferta pública inicial (IPO). A companhia espera alcançar uma avaliação de até US$ 120 bilhões. Para isso, ela precisa provar a investidores que seu modelo de negócios é viável a longo prazo. Um dos desafios enfrentados pela Uber é a concorrência pesada em vários mercados, como a Lyft – também de mobilidade por app – nos EUA, e a 99, no Brasil, que se estabeleceu como um desafiante à altura.
Fonte: Reuters