A polícia da cidade de Tempe, nos Estados Unidos, divulgou hoje por meio do Twitter um vídeo do momento em que o carro autônomo da Uber atingiu e matou Elaine Herzberg, uma mulher de 49 anos. Embora a polícia houvesse alegado que não revelaria imagens do incidente enquanto a investigação não estivesse concluída, as autoridades parecem ter mudado de ideia.

O vídeo de 22 segundos compila dois ângulos diferentes do incidente: um da câmera externa do carro, que olhava para fora, e outro da câmera interna, focada na condutora que estava no veículo para casos de emergência. A colisão ocorre por volta dos 5 segundos do vídeo, e a reação da motorista aparece aos 20 segundos. Ele pode ser visto abaixo (contém imagens fortes):

Segundo o The Verge, a condutora que estava presente no carro no momento do incidente era Rafaela Vasquez, uma moça de 44 anos. Vasquez teria dito à polícia que “foi como um clarão, a pessoa entrou na frente” do carro, e que “o primeiro alerta para a colisão foi o som da colisão”. O vídeo deixa claro que embora a pedestre tenha entrado subitamente no campo de visão dos faróis do carro, ela vinha andando numa velocidade constante, desmontada de sua bicicleta. 

Poucos momentos antes da colisão, a condutora tirou os olhos da estrada por algum motivo que não fica claro no vídeo – pode ser uma breve distração, mas também pode ter aparecido algum alerta no painel do carro. De acordo com o Engadget, embora a estrada estivesse escura, isso não deveria atrapalhar o funcionamento do carro – os veículos autônomos atuais usam uma tecnologia chamada LIDAR, uma espécie de radar que funciona com luz, e que é capaz de enxergar quase perfeitamente no escuro.

Fora isso, o site considera que se as condições da estrada estivessem tão ruins a ponto de prejudicar a visão do LIDAR, o carro deveria ter trafegado em velocidade reduzida – algo que o vídeo deixa claro que ele não fez. Como a polícia não divulgou quaisquer dados do funcionamento do carro durante o acidente, não é possível saber com certeza se o sistema tentou reduzir a velocidade do carro quando detectou a pedestre – mas não parece ser o caso.

Repercussão

Um porta-voz da Uber disse que “o vídeo é perturbador e vê-lo é de partir o coração, e nossos pensamentos seguem com os entes queridos de Elaine”. Num comunicado à imprensa estrangeira, a empresa reforçou que seus carros autônomos “permanecem parados, e estamos auxiliando as autoridades locais, federais e estaduais de qualquer maneira que podemos”. 

Em entrevista ao Engadget, Edmond Awad do MIT Media Lab considerou as condições do acidente suspeitas para a Uber. “Dado que o alcance do sensor da visão do carro é limitado nessas condições, o carro não deveria ter ajustado sua velocidade para um nível no qual ele conseguiria reagir a tempo?”, questionou. O parecer de Awad vai de encontro às primeiras impressões da polícia local, segundo a qual o carro poderia “não ser culpado” pelo incidente.

Depois do incidente, a Toyota resolveu tirar seus carros autônomos das vias públicas e continuar a testá-los apenas em ambientes controlados. Segundo a empresa, sua principal preocupação era com o “efeito emocional” que o incidente da Uber poderia ter sobre os condutores que ficam dentro de seus carros autônomos para casos de emergência. 

Mesmo com o vídeo, o The Verge considera que ainda há uma série de questões envolvendo os acidentes. Primeiramente: considerando que o carro está equipado com sensores capazes de ver um pedestre nas condições em que Herzberg estava, o que aconteceu? O sistema não a reconheceu, ou o carro teve algum problema na hora de aplicar os freios? Também não fica claro por que a condutora se distraiu da estrada, ou mesmo se ela poderia ter feito algo para impedir o incidente.