Indefinição sobre sucessão presidencial nos EUA deixa país vulnerável a ataques

Ao não reconhecer a derrota nas urnas, Donald Trump impede que a equipe de transição de Joe Biden tenha acesso a relatórios sigilosos e se prepare para enfrentar as ameaças ao país
Renato Mota13/11/2020 16h46

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Os Estados Unidos estão vivendo um limbo administrativo. Apesar da vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais estar cada vez mais consolidada, o atual ocupante do cargo, Donald Trump, insiste em disputar o resultado. Com isso, a equipe de transição não teve acesso às reuniões presidenciais diárias, ou a qualquer outro material confidencial.

Mais do que uma saia justa governamental, essa situação é potencialmente perigosa. Especialistas em segurança nacional alertam que a contínua obstrução do governo Trump pode deixar país vulnerável a ataques até que a equipe de Biden possa finalmente estar a par de todas as ameaças – inclusive em termos de cibersegurança.

Para agravar o cenário, vários dos oficiais mais graduados do Departamento de Defesa estão sendo substituídos por funcionários supostamente mais leais ao presidente Trump. Essas ações podem levar a lacunas na forma como informações de inteligência sobre ameaças à segurança cibernética são repassadas para a nova administração.

Adam Schultz / Biden for President

Kamala Harris e Joe Biden, respectivamente vice-presidente e presidente eleitos dos EUA. Imagem: Adam Schultz / Biden for President

“Você quer saber a situação das questões ao redor do mundo, o estado das negociações, das discussões sobre acordos de livre comércio, potenciais pontos de conflito acontecendo, conversas com aliados e ameaças feitas por adversários”, explica David Priess, um ex-oficial de inteligência da CIA e do Departamento de Estado que deu briefings confidenciais aos presidentes Bill Clinton e George W. Bush. “Ter uma transição atrasada ou obstruída atrapalha tudo isso”, acrescentou Priess.

Isso não aconteceu, por exemplo, quando Barack Obama deu lugar ao próprio Trump. A equipe do republicano teve acesso total a informações confidenciais e aos briefings diários. Biden deixou claro que sua prioridade como presidente será combater a pandemia de Covid-19, mas relatórios do FBI e o Departamento de Segurança Interna, de antes das eleições, advertiram que agentes estrangeiros poderiam explorar qualquer incerteza após o dia 3 de novembro para minar os resultados da eleição – incluindo uma ampla campanha cibernética da Rússia.

Adam Schultz / Biden for President

Joe Biden, ainda em campanha. Imagem: Adam Schultz / Biden for President

Instalações médicas e centros de pesquisa que trabalham com vacinas para Covid-19 também têm sido alvo de grupos russos e chineses. “Todo o caos de pessoal no Pentágono, combinado com a recusa da equipe de Trump em informar Biden, é preocupante – além de ser uma violação flagrante das normas”, avalia o diretor de estudos de política externa do Cato Institute, John Glaser.

“A verdadeira ameaça, para ser franco, não vem do exterior. A ameaça muito mais presente para os norte-americanos e suas tradições políticas e institucionais é aquela que eles enfrentam internamente”, acrescentou Glaser, apontando para a disputa política que colocou o discurso político produtivo em segundo plano. “Essa é uma ameaça muito maior do que qualquer coisa que China, Rússia, Estado Islâmico ou Al-Qaeda possam fazer contra nós no próximo governo”.

Via: CNN

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital