Em abril de 2019, Faustin Rukundo atendeu ligação de um número desconhecido no WhatsApp. Após segundos de silêncio, a pessoa do outro lado desligou. Rukundo tinha acabado de ser hackeado.

Preocupado com questões de privacidade, o ruandês exilado no Reino Unido procurou o número na internet e descobriu ser da Suécia, país onde não conhecia ninguém. Depois de um tempo o número ligou de novo, mas o silêncio se repetiu. E mais uma vez no dia seguinte.

“Sempre que ligava de volta ninguém atendia. Percebi que havia algo errado quando comecei a ver que estavam faltando arquivos no meu celular”, contou em entrevista à BBC, acrescentando que amigos recebiam ligações dos mesmos números.Reprodução

Em maio, depois de sair na imprensa que o WhatsApp tinha sido hackeado, Rukundo entendeu o que tinha acontecido. “Troquei meu telefone e percebi que eles estavam seguindo meu número e colocando o software espião em cada dispositivo novo”, continuou.

Depois de meses, recebeu esta semana uma ligação do Citizen Lab do Canadá, confirmando que ele era uma das cerca de 1,4 mil pessoas vítimas do ataque. Rukundo é um crítico do governo da Ruanda, mesmo perfil de supostos alvos do software espião.

O programa supostamente foi desenvolvido pela NSO Group, de Israel, e foi utilizado por hackers para espionar jornalistas, ativistas de direitos humanos, dissidentes políticos e diplomatas.

“Tudo é vigiado, computadores, telefones, nada é seguro. Mesmo quando conversamos, eles podem estar ouvindo. Não me sinto seguro”, afirmou Rukondo, que fugiu de Ruanda em 2005, após críticos do governo começarem a ser presos.

O Facebook, dono do WhatsApp, processou recentemente o NSO Group, alegando que a empresa usou seu software Pegasus para fugir da criptografia do mensageiro.

Via: BBC