Nascido em 2011, o Snapchat passou por poucas e boas ao longo dos seus primeiros anos, tendo enfrentado problemas de privacidade, hacks e o estigma de ser conhecido apenas como um aplicativo para troca de “nudes”. Mas em 2015 a empresa finalmente parece ter se encontrado e agora figura entre as queridinhas do mercado de tecnologia.

O Snapchat foi o serviço responsável por popularizar a ideia de efemeridade na internet – um feito notável, uma vez que a internet funciona como um enorme diretório, então qualquer coisa que seja efêmera parece “fazer mal” à natureza da rede. Ele funciona como o WhatsApp, com a diferença de que toda mensagem recebida – seja em texto, imagem ou vídeo – desaparece em segundos; e há também uma linha do tempo, como no Facebook, mas lá os posts ficam visíveis por apenas 24 horas.

Nudes e assédio do mercado

Num primeiro momento essa efemeridade fez do app a melhor escolha para quem quisesse trocar material íntimo pela internet com segurança, pois além de proporcionar uma visualização limitada do conteúdo, o Snapchat ainda avisa quando o destinatário faz capturas de tela do que recebeu.

Claro que foram encontradas formas de burlar esse sistema e surgiram vários serviços que permitiam salvar o que fosse recebido pelo Snapchat. Só que, em 2014, dois dos maiores terceirizados foram hackeados e um arquivo de 13 GB com fotos e vídeos vazou, gerando um potencial diretório de pornografia infantil, tendo em vista que naquela época mais da metade dos usuários tinha entre 13 e 17 anos.

Mesmo avesso a conteúdo adulto, o Facebook gostou do Snapchat e, em 2013, ofereceu US$ 3 bilhões para comprá-lo. O Google não quis ficar atrás e colocou US$ 4 bilhões na mesa, mas nenhuma das gigantes conseguiu convencer Bobby Murphy e Evan Spiegel, os criadores do serviço, e ele seguiu como uma plataforma independente.

Tamanho assédio não tirou a desconfiança que parte do mercado tinha em relação ao Snapchat. A sensação de que ele poderia ser furada aumentou em agosto de 2014, quando a empresa recebeu um aporte de US$ 20 milhões e, sem ter qualquer receita, passou a ser avaliada em US$ 10 bilhões.

O jogo começou a virar com o aparecimento do Discovery, uma aba de conteúdo jornalístico que permite a inserção de publicidade; foi com ele que o Snapchat finalmente passou a receber dinheiro além dos investidores. Deu tão certo que menos de um ano após lançar a novidade o Snapchat já imaginava fechar 2015 com receita de US$ 50 milhões, mas depois acabou dobrando a projeção para os US$ 100 milhões.

Novos recursos, mais dinheiro

No mês passado o Snapchat anunciou duas novidades. Uma delas é que os usuários poderão pagar para ter direito a mais visualizações de conteúdo: US$ 0,99 por três replays, US$ 2,99 por 10 replays e US$ 4,99 por 20 replays.

Também veio um recurso que permite aplicar filtros animados aos vídeos. Eles aparecem quando o usuário escolhe a lente de selfie e pressiona o dedo sobre a tela por alguns segundos, depois basta seguir as instruções de cada lente: abrir a boca ou mexer as sobrancelhas pode transformar a pessoa em um ciborgue ou fazer com que saia um arco-íris da sua boca.

Daí surgiu também mais uma ideia para ganhar dinheiro. Como esses filtros mudam periodicamente, marcas poderão pagar para colocar uma lente ali no meio. Os valores chegam à casa dos US$ 750 mil para os dias de maior atividade no serviço.

Consolidação

Poucos dias atrás o Snapchat anunciou que deixaria de produzir conteúdo original, que foi introduzido junto com o Discovery, dando indícios de que as ideias envolvendo publicidade e o recurso de compras de replays são o caminho correto. Evan Spiegel e Bobby Murphy tiveram a comprovação de que fizeram a coisa certa ao recusar ofertas de gigantes como Google e Facebook, pois atualmente ambos estão entre os jovens mais ricos do mundo. De acordo com a Forbes, Spiegel, com 24 anos, tem US$ 2,1 bilhões na conta, enquanto Murphy, com 26, possui US$ 1,8 bi.

A companhia hoje vale US$ 16 bilhões e conta com mais de 100 milhões de usuários ativos, incluindo diversas marcas e uma legião de celebridades como Justin Bieber, Calvin Harris, Paris Hilton e outros. Até empresas jornalísticas com espaço próprio no Discovery, como Mashable, mantêm perfis regulares por lá – fazendo companhia a nomes como UOL, The Verge e CNET.

Uma conjunção de fatores convenceu toda essa gente a apostar numa plataforma de conteúdo temporário. Em primeiro lugar, justamente por ser efêmero, esse material gera menos preocupações com edição; enquanto posts no Facebook, Instagram e Twitter demandam certo tempo de elaboração, no Snapchat os usuários podem ser eles mesmos – às vezes com um filtro que não deixa o post mais bonito, e sim mais informativo, ou com pouquíssimo texto e rabiscos feitos à mão na tela.

Além disso, não há contagem de seguidores. Um usuário não consegue saber quão famoso é o outro porque não existe qualquer sistema de avaliação público, como é o caso do like presente no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube etc. Isso faz com que o conteúdo seja ainda mais verdadeiro, uma vez que os usuários não precisam se preocupar com a vaidade de ter uma grande audiência. (A simplicidade do serviço, entretanto, pode ser bem explorada. Confira aqui uma lista com 10 truques escondidos no Snapchat.)