Às vésperas do fim do funcionamento dos apps TikTok (ByteDance) e WeChat (Tencent) nos EUA, a China prometeu retaliação a empresas estrangeiras caso a perseguição do governo Trump às multinacionais chinesas não cessem. O comunicado, divulgado à imprensa internacional, é a mais nova escalada na já acalorada guerra comercial entre China e EUA. 

“A China incentiva os EUA a abandonar seus atos repreensíveis e suas intimidações, bem como respeitar escrupulosamente as regras internacionais, justas e transparentes. Se os EUA insistirem em seguir seu próprio caminho, a China tomará as medidas necessárias para preservar firmemente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, diz o comunicado.

Em outras palavras: o gigante asiático liderado pelo presidente Xi Jinping está preparando mecanismos que permitirão possíveis sanções a empresas multinacionais que tenham atuação no território. O comunicado não fala, especificamente, em empresas americanas, o que dá a entender que, além de companhias dos Estados Unidos, outras nações parceiras poderão ter os negócios impactados.

O território chinês é um ponto bastante aquecido para o comércio internacional, com ações localizadas de diversas empresas americanas, como Apple e Microsoft, que mantêm, respectivamente, as operações da fabricação e manufatura de smartphones e tablets (iPhone e iPad) e o maior centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) fora dos Estados Unidos.

TikTok e WeChat na mira

O comunicado chinês pode ser entendido como uma resposta ao iminente banimento de dois aplicativos globalizados de origem chinesa: o app de vídeos virais TikTok (da ByteDance) e o mensageiro instantâneo com capacidade de processamento de pagamentos digitais WeChat (da ByteDance). Em agosto de 2020, o presidente americano, Donald Trump, assinou duas ordens executivas que, efetivamente, impedem que os aplicativos tenham qualquer ação dentro dos EUA. As ordens executivas terão vigência iniciada neste domingo (20). 

No caso do WeChat, Trump foi específico em dizer que apenas ele seria alvo. Entretanto, uma reportagem recente da Bloomberg disse que as autoridades federais dos EUA começaram a questionar a Tencent sobre suas outras propriedades intelectuais: a saber, a gigante chinesa é dona da Riot Games (conhecida no meio de eSports com o jogo League of Legends) além de ter ações prioritárias dentro da Blizzard Entertainment (World of Warcraft e outros) e Epic Games.

 

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League of Legends, jogo ícone dos eSports, pode estar na mira do governo de Donald Trump. Imagem: Reprodução/Riot Games

A partir de domingo, caso Trump vete o acordo: o TikTok deverá ser retirado das lojas de aplicativos do iOS e Android; usuários que já o tenham instalado o app poderão usá-lo até 12 de novembro, mas sem direito a novas atualizações. Já o WeChat fica terminantemente banido do país, sem exceções.

Vale lembrar, porém, que a sanção imposta pelo governo americano diz respeito apenas aos EUA então, ao menos por enquanto, usuários brasileiros não serão impactados pelas decisões do governo dos Estados Unidos. 

Venda do TikTok foi de solução a problema

Uma saída para o TikTok, discutida há meses, seria a venda de suas operações americanas para uma empresa de nacionalidade estadunidense. Recentemente, Microsoft, Walmart e Oracle estavam entre as concorrentes que lançaram ofertas para adquirir a empresa. A Oracle saiu, teoricamente, como vencedora, mas há alguns percalços no caminho.

A intenção original de Donald Trump era forçar a ByteDance a vender totalmente suas operações locais. Isso implicaria também na liberação de seus algoritmos de inteligência artificial, para serem conduzidos e compartilhados com a empresa compradora. A China, porém, proibiu o compartilhamento desta tecnologia, causando um entrevero nas negociações.

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Proximidade de Larry Ellison, fundador e CTO da Oracle, com o presidente Donald Trump incomoda negociações de compra das operações americanas do TikTok. Imagem: Reprodução/Oracle

Com a Oracle sendo a mais provável vencedora da aquisição do TikTok nos EUA, analistas especulam que a relação entre a empresa fundada por Larry Ellison e a ByteDance seja uma “parceria”: a Oracle ainda responderia à ByteDance nas aprovações de política e condução do aplicativo. Isso, há quem argumente, Trump não quer.

Uma possibilidade levantada pela Oracle é de que ela fique responsável pela infraestrutura de nuvem do TikTok nos EUA, bem como o gerenciamento local de dados de usuários americanos do aplicativo. A medidda, em tese, isolaria Pequim de acessar informações da base americana do TikTok – o que motivou as ordens executivas de Trump em agosto.

Há quem desaprove da ideia, porém, citando favorecimento político: Larry Ellison é uma das pessoas próximas ao presidente norte-americano e foi parte da equipe de transição da gestão Trump nas eleições de 2016. Ele também é o atual CEO da empresa bilionária Safra Catz. 

Fonte: UOL/Bloomberg